quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Feliz 2011


Penúltimo dia do ano e eu imaginado as minhas resoluções do ano que virá. No fim das contas são quase sempre as mesmas, pois acabo não cumprindo parte daquilo que havia prometido. Paciência, os anos mudam, mas ainda continuo sendo basicamente a mesma pessoa. No entanto, não é por causa disso que deixarei de ser otimista e continuar pensando em mudanças.

Pode ser que neste novo ano eu leia mais ou então me decida por dar menos atenção aos meus desejos privados. Não sei, tudo é muito impreciso.

Que este ano eu possa dar mais de mim e fazer-me essencial nas horas de dificuldade.

Que eu compreenda a impossibilidade de tornar os dias mais longos, mas entenda que mesmo assim posso torná-los melhores.

Que este ano eu tenha mais irmandade pelos homens e entenda que as contradições existem porque somos diferentes uns dos outros, porém isso não significa que nos afastemos só por não ser todos iguais.

Que este ano eu tenha mais amor por tudo, que o único sentimento capaz de transformar o mundo.

Que este ano seja aquilo que ele simplesmente promete: um novo ano.

Paz e amor para todo mundo neste ano que está chegando. São meus votos e de toda minha família para todos os que tem tornado este blogue um espaço gostoso de se visitar.

sábado, 25 de dezembro de 2010

O cheiro da felicidade


Quando eu tinha treze anos, lembro que a rede Bandeirantes exibia aos domingos uma sessão de filmes mais artísticos – eles eram legendados e tudo, contrastando com a exibição tradicionalmente dublada. Lembro também que não gostava muito deles, mas mesmo assim os assistia com bastante atenção, pois queria ser diferente dos meus colegas de infância, que naquela idade entretiam-se mais com as comédias picantes típicas da década de oitenta, como Porkys e o O último americano virgem, ou então as pornochanchadas brasileiras que, aliás, também eram exibidas naquele mesmo canal, nas segundas feiras clandestinas – obviamente clandestinas pela pouca idade que todos nós tínhamos. De todos os filmes que assisti naquelas sessões de domingo, sobra muito pouco para entrelaçar todas as tramas, mas lembro muito bem de um deles, um que era francês e se chamava Barjo.

Não que a película francesa tenha marcado a minha vida, mas uma atitude da personagem principal, à época, chamou-me bastante a atenção – e lembrei-me disso agorinha mesmo. Ele, e a história dizia que desde a infância, tinha uma coleção de balinhas de leite acondicionadas dentro de um saco plástico. Em momentos de grande tensão, tirava-as de seu casaco e as cheirava fortemente. As minhas críticas cinematográficas não eram tão exigentes quando eu tinha treze anos, mas imaginei, e nisso senti uma ligação fortíssima entre mim e a personagem, que aquilo deveria possuir o cheiro da felicidade, capaz de espantar tudo o que é infelicidade. Não que eu achasse que a felicidade possuísse cheiro de balas de leite, para mim, ela cheirava mesmo era a plástico novo.

Pode parecer meio bobo, no entanto todos nós um dia depositamos as nossas expectativas no cheiro que alguma coisa nova exalava. Quem nunca pensou como o ano letivo parecia promissor ao cheirar o material escolar novinho? As paredes cheirando a tinta fresca da tão sonhada casa nova, quem não a cheirou, hein? Ou então o cheiro do bebezinho que se acabou de ter, quem nunca depositou mil esperanças no cheiro do filho recém nascido?

A felicidade é imaterial. Claro, ela é um estado de espírito estampado bem na cara de quem está feliz. Porém não se deve negar que a fé, o desejo de realização, a própria humanidade são capazes de tornar o invisível em palpável. Meus sonhos de criança e minhas expectativas estratosféricas (não fui à lua como eu esperava, mas a pinto todos os dias de minha vida com a tinta forte daquilo que escrevo) continuam vivos, porque no fundo ainda sou capaz de materializar os sentimentos mais importantes nas coisas mais cotidianas, como o cheiro do plástico novo. E para você, qual é o cheiro da felicidade?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Juventude transviada


Não gosto de ir a shopping center’s por dois motivos muito fortes. Primeiro, eles vivem cheios. Segundo, eles vivem cheios de adolescentes. Nada tenho contra os adolescentes, até mesmo porque já fui um também e devo ter suscitado nos adultos o mesmo sentimento que eles suscitam hoje em mim. Além do que, minha missão profissional (e por que não, pessoal) é educá-los, já que sou professor do ensino médio. Mas é estranho como eles se comportam nos lugares em que não são obrigados a usar farda; a ficar expostos ao monitoramento. Isolados em certos meios são mais toleráveis, mais “controláveis” (embora controle não seja uma palavra adequada quando se fala em relacionamento, seja ele qual for). Soltos são imprevisíveis; misturados às suas diversas tribos, cheias de gírias, roupas e penteados próprios.

Outro dia, com minha esposa, tive que comprar um presente no shopping. Eles, os adolescentes, estavam lá, aos bandos. Como minha esposa não se decidia sobre o que comprar, resolvi dar uma passada na livraria mais próxima (minha ilha de liberdade naquela Meca de consumismo). Tinha alguns títulos interessantes, muito embora houvesse bastantes romances da Stephanie Meyer (também nada contra quem curte o tipo de literatura que ela produz). A certa altura, entretido em minhas cogitações e já disposto a folhear algumas obras no formato de bolso, notei dois casais de adolescentes (pelo menos acho que eles formavam casais) se aproximando à minha direita. Lépidos e alegres, falavam das obras expostas na vitrine. Um dos casais era bem normal, apesar do excesso de glitter e chapinha em ambos. O outro casal era, digamos, mais exótico. Deviam ter uns dezesseis anos. Ela, com muita maquiagem pesada para pouca idade que tinha. Ele, excessivamente musculoso, para a pouca necessidade que devia possuir para cultivar tantos músculos. A menina muito maquiada de repente reclamou com o rapaz do outro casal sobre os motivos que o fizeram levá-la até ali, uma vez que ele tinha conhecimento de que ela em toda vida não pegara em livro algum. Pensei comigo mesmo: você não deve ter ideia do que está perdendo. O rapaz cheio de músculos, e sabe-se lá porque as forças do cosmos não o mantiveram em silêncio, contou uma anedota suja que fazia trocadilho com um nome de livro. Depois que perderam o interesse na vitrine, resolveram ir embora.

Às vezes a juventude me espanta: seja por seus avanços ou retrocessos. São espantos distintos, é verdade, e dou muito mais valor ao primeiro que ao segundo tipo de espanto. Existe uma geração muito mais consciente que a minha – e dela realmente só se espera grandes realizações. Em contrapartida, um número crescente de jovens tende a levantar bandeiras como a da idiotice, do pouco caso e da falta de modos. É triste, mas é um duro fato da vida, que existem jovens que são incapazes de fazer uma reflexão de seus atos. O rapaz cheio de músculos, por exemplo, se exercita regularmente para ficar bem apertado em sua camisa justa e não para ter uma boa saúde – ele só faz isso, porque todos fazem. Que tipo de valores nós temos passado à juventude, seja como pais, educadores, como seres humanos? Será que resultado esperado é esse que se vê todos os dias: uma juventude que considera o errado certo, que despreza os livros porque eles fornecem cultura, que sai à noite para agredir, para mostrar que é mais forte? É preciso ser mais atento com quem está há pouco tempo no mundo. É preciso que se assumam rédeas e responsabilidades sobre aqueles que foram gestados por nossas escolhas. O adolescente que dá problema na escola, exibe apenas um fragmento de uma tragédia social muito maior, que passa pelo descaso com que pais tem tratado seus filhos, repassando suas responsabilidades a quem só devia complementá-las. O pai que entrega a educação de seu filho unicamente ao Estado ou aos grandes sistemas educacionais privados, além de irresponsável, é criminoso e desumano, pois se abstêm justamente daquilo que nos torna mais humanos: a capacidade de amar e dar o exemplo.

A juventude é ousada. Está ai para romper barreiras mesmo. Surpreender o mundo com sua sagacidade. Mas ela é incapaz de desenvolver suas capacidades se não tiver ajuda, se não tiver alguém que imponha barreiras e ensine a essência da contestação, se não tiver papai e mamãe. Vendo o que acontece no mundo, não sei se posso dizer que os jovens de hoje são desrespeitosos, porque via de regra eles, em sua grande maioria, são filhos de pessoas inconseqüentes e o que o filhos fazem é apenas seguir o exemplo (ou a falta dele) de casa. Educar tem que ser muito mais do que uma tarefa que envolva gastos, mas algo que envolva responsabilidade, generosidade, respeito, comprometimento e, sobretudo, amor – e como falta amor nesse mundo!