quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bipolaridade


Casais são bipolares. Exagero? Tudo bem, então a maioria deve ser. Ainda é muito? Está certo, mas a metade é com certeza – e acreditem, deste percentual não abro mão. Pode ser que um dia um estudo científico sério até corrobore a minha afirmação e aí quero ver alguém duvidar de minhas estimativas. Sustento a bipolaridade dos casais por conta de situação ocorrida com um conhecido meu. Situação de tal maneira inusitada que não me furto a duvidar de sua veracidade.

O conhecido em questão queixava-se de divórcio ocorrido, segundo ele, por motivo banal. O litígio desfechou-se com golpe brutal da esposa, que num átimo de fúria resolveu covardemente subtrair o objeto de maior estima de meu conhecido: o seu colchão.

Numa situação como, esta não sei o que pode ser mais bipolar:

A separação por motivo banal;

O covarde furto do colchão;

O fato do mesmo nem sequer ser de mola.

Este acontecimento não é exceção, pois, mundo afora, existem histórias bem parecidas (para não dizer bizarras). Quem – falando nisso – não se lembra de Pedro e sua ex-namorada; hit do youtube (Pedro, me dá meu chip!!!), que também tinham as suas bipolaridades? Eu e minha esposa – que não é segredo para ninguém, nos amamos – de vez em quando temos nossas bipolaridades. Assim como você, que está lendo a crônica neste momento, e sua cara metade também podem ter as suas bipolaridades. Porque, afinal de contas, as paixões são assim mesmo, nos arrastam de uma ponta à outra. O que me faz acreditar que pensar que existem apenas 50% de casais bipolares é ser otimista demais.

Ah, pobre de meu conhecido, que duplamente inconsolável, não sei se pela perda da mulher ou de um lugar onde pudesse deitar as suas lágrimas, ainda se queixou: Ela levou o colchão. E agora, o que eu vou fazer? Você, falei, não sei, mas eu vou escrever uma crônica.

domingo, 4 de abril de 2010

Batismo


O casal com o bebê nas mãos desce cuidadosamente as pedras que os separam do mar – é que mesmo inamovíveis elas são traiçoeiras, lisas e cortantes com suas navalhas de minério. É a primeira vez que levam o bebê diante do velho oceano. Dizem que a vida surgiu ali, na água, e por que não, talvez pense o pai, ali se diluirá também, no comum acordo entre o que está morto e o que está vivo, onde as coisas do mundo têm seu prosseguimento. Portanto, deve ser importante aquela apresentação, onde o bebê, refletido nas águas, conhece aquele que com sua vontade alimentou homens ou fez sumir gerações inteiras deles nas suas imensas vagas.

Ao redor de todos eles, no mar, na areia, no ar ou até mesmo nas pedras, a natureza pulula em pequenas vidas e pequenas mortes.

O pai molha os pés e a cabeça do seu bebê na água. Levanta-o pelas axilas, exibindo-o à lua imensa na noite azulada. A mãe afaga os dois com o sorriso. E o mar, depois que lambe os pés da criança, se satisfaz com a reverência, prometendo no silêncio de suas ondas benção e proteção para mais uma pequena vida que oxalá, um dia irá girar seus dias em torno das mesmas águas onde agora se abençoa.

Voltam pelas pedras para ir embora, protegendo a criança do frio da noite. Atrás deles permanece o mar, sorrindo ao desfazer-se em espuma.