tag:blogger.com,1999:blog-79754440027449509472024-03-12T20:03:19.899-07:00As Palavras Que o Vento LevaAnalista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.comBlogger72125tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-59257890150282040942019-09-03T16:37:00.000-07:002019-09-07T16:18:37.139-07:00Perguntas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-ZIMDoIFxV_0/XXLmT-hCFhI/AAAAAAAAGY4/sH5EBqpiOH4h-mjenI3ZonmzD74FVGeUwCEwYBhgL/s1600/father-and-son-planting-tree-footage-023175302_prevstill.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="225" src="https://1.bp.blogspot.com/-ZIMDoIFxV_0/XXLmT-hCFhI/AAAAAAAAGY4/sH5EBqpiOH4h-mjenI3ZonmzD74FVGeUwCEwYBhgL/s400/father-and-son-planting-tree-footage-023175302_prevstill.jpeg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para muitos curiosidade é
defeito, desvio de personalidade, falta de caráter. Para mim é qualidade e que –
modéstia à parte – tenho em profusão. Sempre foi assim e enquanto tiver gana em
conhecer algo, assim será. Desde criança sou deste jeito, cheio de perguntas e com
elas vivia construindo meus castelos. Mamãe, coitada, era o meu maior oráculo –
e digo isso porque para responder algumas perguntas, só com intervenção de
Apolo mesmo. Perguntava o que desse na telha. O nome das coisas. Das plantas, dos
bichos e quanto viviam. Quantas estrelas cabiam no céu? Quem fazia o barulho
gozado das conchas, quando a gente as levava ao ouvido? Para encher o oceano,
precisaria de quantos litros d’água? Vovô foi embora para onde, que não quis
nem me conhecer? Algumas ela respondia. Outras, ausentes de lógica minha ou
falta de conhecimento dela, simplesmente, pela mais vertiginosa tangente,
fugia. Você pergunta demais, menino, dizia.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Meu
filho, aos sete anos, também é muito curioso – e confesso, por grande ironia da
coisa toda, muito mais que eu. Hoje me supera as perguntas, daqui a pouco a
altura, amanhã, por fim, o conhecimento e seguindo o ciclo, se verá obrigado a
prestar atenção ao que perguntarão meus netos. Ele é curioso, muito curioso.
Você pergunta demais, menino, digo e percebo que sou dotado dos mesmos
escapismos ancestrais de minha mãe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em
outros países, crianças em outras línguas que nem conheço, devem fazer aos seus
pais as mesmas perguntas que fazia a minha mãe e – por causa do ciclo que falei
há pouco – uma vez que se tornarem adultos, naquela fase em que cansamos de
perguntar e pretensiosamente – ainda que se saiba que nada de essencial foi
respondido – tentamos nos apoiar na frágil muleta do conformismo. Entretanto,
sempre haverá uma criança, que é filho de alguém que também foi filho, que perguntará:
mãe, o que é aquilo? Dá para fazer diferente? Eis me aqui, um corpo de homem
que se assenta em pés de menino, questionando. De repente meu filho, furacão de
duas pernas, indiferente ao meu silêncio e gravidade, faz de meus papeis e
concentração hecatombe – fenômeno que faz de um jeito todo dele. Interrompe o
cataclismo e pergunta o que faço sentado atrás de minha mesa. Não sei, filho,
respondo sinceramente ao me levantar, deixando de lado o que nem sabia mais
estar fazendo. Vou onde ele está me debruçando sobre seus olhos e me vejo nele,
mais de trinta anos remoçado: baixinho, magro e com um olhar curioso que se
sustenta em cima de dois joelhos ossudos. Não dá para fazer diferente. Ainda
bem que não dá para fazer diferente.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-44647433527940704762015-10-18T19:26:00.001-07:002015-10-18T19:28:51.168-07:00Ausência<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-nqSNdrA-1j8/ViRUs0YgUsI/AAAAAAAAA24/d5LiCLXMmEY/s1600/aus%25C3%25AAncia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-nqSNdrA-1j8/ViRUs0YgUsI/AAAAAAAAA24/d5LiCLXMmEY/s1600/aus%25C3%25AAncia.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Fazia anos que não se viam, uns
catorze mais ou menos. Naturalmente o tempo agiu em ambos, mudando suas
aparências, tornando-os mais experientes. Ele adquiriu o hábito de desconfiar
de todo mundo; ela, de tão pessimista, vestiu-se com uma capa de tristeza.
Encontraram-se em uma rua movimentada e quase não se reconheceram de tão
acostumados que estavam à ideia de nunca mais se verem.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Para quem já passou dos trinta,
catorze anos de ausência não fazem tanta diferença na vida de alguém, na
maioria das vezes quase todo mundo é definitivo nessa idade; o tempo torna mais
velho, mas é incapaz de mudar a personalidade de quem quer que seja. Entretanto,
existe um período da vida em que se é uma página em branco, nessa fase, as
experiências vividas em um único dia deixam marcas indeléveis na alma. O período
do qual se fala é aquele elo perdido da existência de todos, em que não se é
criança nem adulto; que vai dos quinze aos vinte e cinco, onde tudo é marcante
e é capaz de por a vida toda em perspectiva, modificando-a totalmente. Foi nessa
fase confusa em que se conheceram, ele com dezessete, ela, um pouco mais velha
que ele, com vinte e um. Viveram uma dessas muitas paixões arrebatadoras que se
veem por ai; o clichê típico da idade, rito de passagem obrigatório do fim da
adolescência para o início da vida adulta. Namoraram por quase dois anos. Dividiram
dúvidas, anseios, sensações, sonhos e tão forte como tudo começou, repentinamente
desapareceu. Firmaram uma certa amizade, mas depois cada um foi para o seu
canto e nunca mais se viram.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Anos mais tarde, sem saber ao
certo o que queria de fato, a separação pareceu para ele uma coisa boba e
resolveu procurá-la entre parentes e conhecidos dela, obtendo a informação de
que viajara fazia três anos para o exterior e que nunca deixara um endereço ou
telefone fixo, mudando periodicamente de lugar. A princípio sentiu-se meio bobo
por tê-la procurado em vão, depois, ficou sentido com a falta de consideração
dela, que foi incapaz de avisá-lo, ainda que não tivesse obrigação nenhuma de
fazê-lo.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Quando ela resolveu sair do
país, buscava outros ares e quem sabe a chance de ser feliz também. Achava que
até então a vida tinha sido uma burrada só, uma desilusão atrás da outra,
porque era muito difícil buscar um entendimento da vida e vivê-la ao mesmo tempo.
Pensava muito no passado e arrependida de certas coisas, achava que às vezes a
única coisa boa que o passado podia oferecer era a possibilidade de esquecê-lo.
No saguão do aeroporto, à espera do avião que a levaria para outra vida, pensou
nele, seu antigo namorado, e era uma lembrança gostosa, tipo um dia de chuva.
Associação estranha, ela pensou. Fazer o quê, talvez não fosse para dar certo
mesmo.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Quem sabe tenham continuado
juntos em uma realidade paralela e quem sabe, de quebra, tenham sido felizes,
mas o mundo é o aqui e agora, o resto especula-se. Ele terminou a faculdade,
arranjou um emprego na área; casou-se, não deu certo, separou-se. Ela percebeu
que era muito fácil trocar de país, de cultura e indo de um lugar para o outro
no mundo, descobriu que a única coisa que diferenciava um ser humano de outro
era apenas a língua e isso era frustrante; por fim, assim como ele,
divorciou-se, só que do mundo todo.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Então lá estavam eles de novo,
juntos, depois de catorze anos. Impressionavam-se como o tempo os tornou
diferentes, um salto tão profundo que os converteu, repentinamente em dois
adultos. Ele a convidou para um café, ela disse que estava com pressa, era
apenas um café, ele insistiu.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-indent: 35.4pt;">Sentaram no café meio constrangidos, sem ter muito o que
falar para o outro, é verdade, mas pouco tempo depois conversavam
razoavelmente. Falaram amenidades; comentaram, espantados, as mudanças do mundo
em tão pouco tempo. Ele falou da época da faculdade, de sua procura por ela, do
trabalho e do divórcio recente – deixando muito clara a impossibilidade de
resgatar seu casamento. Ela falou de
suas andanças pelo mundo, de sua freqüente curiosidade em conhecer as coisas,
de sua imensa frustração em achar tudo ordinário e de sua impossibilidade em
prender-se a alguém. Em algum ponto da conversa, falou-se do passado e de como
certos acontecimentos graves, catorze anos depois, ficavam mais amenos e até
mesmo engraçados. De repente ele deixou escapar que pensava muito neles dois e
que não podia deixar de imaginar que a vida poderia ter sido outra para eles. Mesmo
acreditando em seu íntimo que nem todos haviam nascido para aquilo, concordou
com as palavras dele e ficaram em silêncio. Na verdade, ele disse alguns
minutos depois, não lembro por que nos separamos. Eu também não, ela disse.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Antes de se despedirem,
perguntou se ela estava morando na cidade. Ela disse que não, que estava lá só
para resolver uns problemas jurídicos que surgiram com a recente morte do pai e
que em breve cairia no mundo outra vez. Ele lamentou duplamente, a morte do pai
dela e sua inevitável partida. Trocaram telefones e um abraço canhestro e foi
naquele curto contato, no momento em que se viram nos olhos, que sentiram uma
energia que emanava de ambos, um certo quê de algo que estava inacabado.</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Ele a observou afastar-se,
querendo que ela permanecesse, mas sem achar as palavras certas que fossem
capazes de convencê-la. Fosse o que fosse, curiosidade ou esperança, vê-la
partir dava a impressão de que jogara fora os últimos catorze anos.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
Ela misturou-se à multidão e
desapareceu rapidamente, uma habilidade desenvolvida após anos de uma intensa
fuga de tudo. Voltou a sentir aquele
medo danado que tinha da felicidade e fugia antes de arrepender-se por ter dado
um número errado de telefone ao seu antigo namorado.</div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-2495990133500247002015-10-04T18:19:00.002-07:002015-10-04T18:19:53.701-07:00Crônica de um dia sem televisão fechada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-UFPU_6sNaZk/VhHQJQRj7WI/AAAAAAAAA2k/EeQUlenRbxE/s1600/89054833_be83bcb3b9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-UFPU_6sNaZk/VhHQJQRj7WI/AAAAAAAAA2k/EeQUlenRbxE/s320/89054833_be83bcb3b9.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Estou sem televisão por
assinatura e estou sentindo uma falta danada porque tenho um ótimo pacote de
canais. Por alguma causa natural – pode ter sido uma ventania muito forte que
deu por aqui – ou até mesmo incompetência do técnico que fez a instalação, minha
antena caiu e fiquei sem sinal. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
O que fazer enquanto o técnico
não chega?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Como tenho pouquíssimas opções
na televisão convencional – aqui em casa só pegam dois canais – recorri à minha
velha coleção de <i>DVD’s</i>, que andava em
baixa por causa da tal televisão fechada. Para dizer a verdade, ainda não
migrei para o formato <i>Blu-Ray</i>
justamente pela comodidade de ter tantos filmes à disposição nos muitos canais
oferecidos. De repente percebi o quanto fiquei acomodado e preguiçoso nesse
quesito. Logo eu, que um dia tive uma enorme coleção de fitas <i>VHS</i>. As pessoas que estiverem abaixo da
casa dos 30 anos, sintam-se desobrigadas em ler este texto, definitivamente
isto aqui não é da época de vocês.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Voltando ao assunto, fiquei
observando meus <i>DVD’s</i>, buscando um
título que me interessasse e ai bateu uma saudade dos anos de 80 e 90, porque
lembrei que naquelas décadas não havia <i>DVD</i>
e o <i>boom</i> das locadoras – que nem
sonhavam com pirataria digital – era alimentado por aquelas fitas cassete
enormes que levávamos para casa sob a ameaçadora advertência de rebobiná-las
antes de devolver. Bons tempos aqueles. Tudo era diferente. O cinema era outro,
a música era outra, a vida era outra. No ar havia menos malícia e mais
fantasia. Já disseram que nasci com uma cabeça velha demais, que falo muito do
que passou. É verdade, falo muito do passado, até mesmo porque é só dele que
posso falar com conhecimento de causa, pois o futuro ainda virá e o presente
deixa de sê-lo no instante seguinte. Resta-me então o tempo que passou e as
lembranças deixadas por ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Muita coisa, além do <i>VHS</i>, ficou
para trás. Eu mesmo já deixei de
contabilizar perdas e ganhos, simplesmente deixo acontecer. Novas gerações sucederam
a minha e outras deixaram de falar comigo por já terem ido embora. Alguns de
meus heróis ainda estão por ai, me defendendo; outros viraram bandidos e
cumprem as penas dos crimes que antigamente combatiam. Máquinas de escrever –
que me serviram tanto na faculdade – são peças de museu. A música perdeu a
forma física, ela agora é digital, onipresente. O que me espanta é o preço dos
vinis, caros por serem raros. Os tempos mudaram e as pessoas que agora estão
conectadas às redes sociais, nunca estiveram tão longe de si mesmas. Porém, não
posso negar que muito melhorou, posso oferecer mais do que meus pais podiam me
oferecer; todo mundo pode – dentro do limite legal – falar o que pensa; a
tecnologia já nem é mais tão restrita; e a medicina só avança.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Deixei de procurar um <i>DVD</i>, o filme poderia ficar para depois,
preferi ligar para a minha mãe e saber como ela estava.</div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-12688653957310010722014-03-24T16:54:00.004-07:002014-03-24T16:54:58.572-07:00A volta do pior<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-3Fv8oYe1T6Y/UzDFnh610yI/AAAAAAAAASQ/_AnKQTSGvp4/s1600/ditadura_1_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-3Fv8oYe1T6Y/UzDFnh610yI/AAAAAAAAASQ/_AnKQTSGvp4/s1600/ditadura_1_.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<br />
Hoje, apenas passando a vista em um portal de notícias, vi uma que era no mínimo curiosa e pode ser que na verdade seja até preocupante. No sábado, na cidade de São Paulo, cerca de mil pessoas se reuniram para uma reedição da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade". Sim, aquela mesma ocorrida cinquenta anos atrás em favor do golpe dos militares. Não dá para levar muito a sério um bando de católicos nervosos e umas tantas donas de casa reacionárias (acho que os tais "Black Bloc's" com seu vandalismo e suas toucas ninjas chamam mais atenção dos noticiários), mas fico pensando, se existe um número de pessoas, ainda que insignificante, exigindo o retorno dos tempos mais obscuros deste país, é sinal de que as coisas andam muito, mais muito erradas mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não vou perder meu tempo falando mal do PT, até mesmo porque é impossível achar um espaço para manchar a sua imagem, mas convenhamos que muita gente já está começando a se cansar com os absurdos que esse partido nos vem empurrado goela abaixo faz mais de uma década. A lista recente incluem a copa do mundo, as olimpíadas, os embargos infringentes do mensalão, o apoio dispensado a regimes ditatoriais como os de Cuba e Venezuela e todas essas coisinhas escandalosas que todos já estão carecas de saber. Na outra ponta os velhos problemas que, para alguns, ainda são culpa das gestões "elitistas" do passado: educação falida, saúde em estado terminal, descaso social, insegurança e por aí vai.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando pessoas pedem a volta do pior é porque não existe esperança em lugar algum, mas uma coisa os generais me ensinaram, o pior dos políticos ainda é melhor que o melhor dos generais. Também não vou falar nada sobre ditaduras, qualquer um que tenha um mínimo de inteligência sabe o que elas significam; assim como não falarei das pessoas que participaram da tal marcha, é que não costumo escrever palavrão. Uma coisa positiva posso tirar disso tudo, é bom que esses nossos governantes abram os olhos, porque se hoje alguém lá em São Paulo pede a volta do pior, pode ser que um dia alguém cometa a loucura de pedir o melhor também. Aí já imaginou como vai ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Detesto falar de política. Política é chato e o texto não flui, não fica bonito. Prefiro falar das crianças, das borboletas e do vento. Sinceramente, às vezes perco meu tempo com cada besteira.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
</div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-1080102398871111032014-03-16T19:23:00.001-07:002014-03-16T19:23:21.347-07:00Amor <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-X75lpiaBqPQ/UyZcJgfeELI/AAAAAAAAAR8/6l1ZxOO4eR4/s1600/alian%C3%A7a+casal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-X75lpiaBqPQ/UyZcJgfeELI/AAAAAAAAAR8/6l1ZxOO4eR4/s1600/alian%C3%A7a+casal.jpg" height="202" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela sempre se queixou da falta de carinhos do marido, que imbuído de suas coisas praticas, que nos dizeres dele próprio eram sustentar a família e pagar as contas, apenas para citar como exemplo, nunca havia destinado a ela certos afagos.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí veio o câncer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O caroço abaixo da axila chamou sua atenção, mas não parecia ser anúncio de qualquer coisa mais séria. É que às vezes a gente dá pouca importância para os pequenos sinais de enfermidade que o corpo expressa. Depois disso é que vieram os demais sintomas: a vermelhidão pelo corpo, a pele enrugada, a ferida que se abriu em sua mama direita.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como deveria ser, a família acercou-se dela - até mesmo o marido que meio receoso, meio arrependido, ressentiu-se do amor não materializado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim ela foi levando sua nova condição, fazendo exames de todos os tipos, tratamentos quimioterápicos, a extirpação da mama afetada - que nada significou diante de um câncer metastático -, crises que davam vontade de morrer logo. O marido ficava na cabeceira da cama, atento, afagando-lhe a testa suada. Ali foi redescoberto pela esposa, que enfim pode perceber que não era um caso de falta de amor, mas aquelas estranhas relações que se estabelecem depois de muitos anos de casados, estranhas relações que impedem de dizer eu amo você para a pessoa amada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Certo dia o encarou no fundo dos olhos e palavras não precisavam ser ditas. Ele a percebeu na cama e tudo que existia ao redor dela, o quarto, os corredores, os outros doentes que também sofriam, e até mesmo o hospital inteiro não passavam de um pano de fundo negro, alheio à história de vida deles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu amo você, ele disse, sentindo o concreto de anos quebrar de sua boca muda de palavras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sei, ela respondeu. Eu sempre soube.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela morreu duas semanas depois. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A cerimônia fúnebre não teve nada demais e essas ocasiões não precisam disso mesmo, afinal, as despedidas ocorrem antes das pessoas partirem. O marido, agora vestido de viuvez, não tinha a menos vontade de estar ali, apertando mãos, recebendo tapinhas nas costas. O que ele queria era pegar o carro e dirigir até a gasolina a gasolina acabar, poderia também entrar em um bar e beber até perder a consciência ou quem sabe até mesmo cavar um buraco bem fundo e enfiar-se nele para ser esquecido por todo mundo. Entretanto não podia fazer nada daquilo, deveria permanecer enlutado dentro de uma tradição que já nem se questiona mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A terra caiu sobre o caixão e tudo acabou. Simples assim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda levaria muitos anos para que ele também morresse. Nesse intervalo, é lógico, a vida seguiu seu curso, com seus filhos dando-lhe netos e o tempo dando-lhe rugas e reumatismos. Tornou-se um velho recluso, mas não antissocial, apenas gostava do silêncio e da lembrança. Ainda lembrava do quarto de hospital em que esteve com sua falecida esposa, sua boca dizendo que a amava e tudo parecia ter acontecido no dia anterior, mesmo que tempo negasse tudo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando finalmente pode morrer em paz com sua consciência, não temeu a morte, porque imaginou que talvez ela nem existisse. Pensou na esposa e de como era curioso que o amor, um sentimento tão melhor descritos pelos poetas, fosse tão latente em um homem rude como ele. Eu amo você, disse enquanto segurava a mão de um de seus filhos à cabeceira de sua cama de hospital - por sinal o mesmo em que ela falecera, mas não era a mão de seu filho que buscava e sim a de alguém que partira muito tempo antes dele. Eu também amo você, pai e o filho sentia que o pai morreria ali, naquele instante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O velho homem olhou de lado, na direção da janela e estava um dia lindo lá fora. Também estava um dia lindo dentro dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fechou os olhos e morreu.</div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-54133947737956964382014-03-07T20:09:00.001-08:002014-03-07T20:10:53.117-08:00O bicho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-PJTFjbYMiqY/UxqXes-WcJI/AAAAAAAAARs/HR-E5lOs7ks/s1600/homem+e+porcos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-PJTFjbYMiqY/UxqXes-WcJI/AAAAAAAAARs/HR-E5lOs7ks/s1600/homem+e+porcos.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">O bicho</span></div>
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Vi ontem um bicho</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Na imundice do pátio</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Catando comida entre os detritos.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Quando achava alguma coisa,</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Não examinava nem cheirava:</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Engolia com voracidade.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">O bicho não era um cão,</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Não era um gato,</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Não era um rato.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">O bicho, meu Deus, era um homem.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
O poema "O bicho", de Manuel Bandeira é uma das pérolas mais finas e caras da recente literatura brasileira. Fina porque é uma construção literária magnífica, que só podia ser produzida por um grande artista como ele. Cara porque usando o lirismo revela as grandes misérias deste país que chamam de Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse poema mexeu comigo na juventude e estremeci ao constatar que a criatura que vasculhava os detritos, que sequer cheirava o que comia era um homem. Mas na época eu nada podia fazer, não era mais que um garoto e aquilo estava além de minhas condições. O tempo passou, amadureci e virei um homem. As imagens que chocaram tanto a minha imaginação sumiram de minha cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia desses, andando pelas ruas de minha São Luís, vi outra vez o bicho, mas ele não estava nas palavras de um poema, ele estava na minha frente, diante de meus olhos. Vi um homem curvado que nem bicho faminto, vasculhando o lixo furiosamente e em um bandeco usado e sujo, depositava tudo o que achava e fazia para si uma refeição bizarra. O que causaria repulsa na maioria das pessoas era o que atenuaria mais um de seus dias de miséria. De repente me senti o garoto que havia lido o poema anos atrás e mais uma vez não podia fazer nada, porque não era a comida que lhe faltava, era a própria dignidade. Nessas horas existem aqueles que dizem que Deus não existe e é verdade, para eles não existe mesmo, mas aí Deus é apenas um conceito e nem é o mais caro dessa história. O conceito que nos abala e nos aflige é o nosso conceito de humanidade. O que é a humanidade em um momento como este? Nada. Porque o homem que vi não era um humano, sequer era um bicho. Os bichos estão integrados à natureza bruta e se os vemos buscando alimento em meio ao lixo é porque estão deslocados de seus <i>habitat</i>. Entretanto, o homem que vi não estava deslocado, estava entre outros homens e ainda assim comia lixo, mas a sua fome não era de comida, a sua fome era de ser homem, era fome de deixar de ser bicho. É nesse momento que a humanidade não é um conceito, uma palavra para ser dita por bocas cheias de dentes. A humanidade não existe.</div>
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
São Luís, 20 de fevereiro de 2014.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-63824566101252058212014-02-21T17:51:00.002-08:002014-02-21T17:52:24.897-08:00História de bar nº 1: a mulher de olhos tristes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-_49Xc25NwVs/Uwf9na74-aI/AAAAAAAAARQ/wUxu8MeuohY/s1600/mulher-fumando-grande.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-_49Xc25NwVs/Uwf9na74-aI/AAAAAAAAARQ/wUxu8MeuohY/s1600/mulher-fumando-grande.jpg" height="244" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 9.0pt; line-height: 115%;">Na verdade, quando comecei a escrever este texto, imaginava
fazê-lo me baseando em um fato bem simples que presenciei. Entretanto, a
história foi ganhando rumos diversos dos quais eu havia escolhido e quando
terminei já não era nada do que eu havia pensado. Publico como crônica, muito
embora também pudesse ir como conto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Moscas
rodeiam a minha cabeça. Na certa cobiçam o copo de cerveja que desfia bolhas
solitárias na imensidão de mais uma bebedeira. Acendo um cigarro, a fumaça em
absoluto as incomoda, então permanecem aqui, fumando comigo e a fumaça – essa
companheira nefasta – convida a dançar mais um inevitável câncer. A vida é
muito mais que isto, penso, mas ignoro a boa voz que insiste em me acompanhar
nessas horas. Sacudo as mãos afastando as moscas de meu copo – alguém deveria
tomar uma providência em relação a isso. Observo-as voando, elas são grandes,
gordas, varejeiras de minha existência. Baixo meus olhos e um cão me encara
inquisidor. Só faltava essa, digo entredentes como se falasse para o animal,
que, como se entendesse alguma coisa, em resposta lambe meus sapatos. O gesto
me afeta e sinto-me tocado de estranha afeição ao me achar afagado no bar sujo
em que agora estou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Olho
para fora, para rua e tudo é comum. Aqui dentro também não é diferente, mas em
algum canto do mundo, seja lá onde fosse, não deveria haver um pouco de
esperança quando pomos a cabeça para fora e espiamos a rua? Pego a garrafa para
encher meu copo novamente e sinto seu peso, está vazia. Procuro o garçom com os
olhos e o encontro debruçado na mesa de sinuca, dando pitacos no jogo de outros
dois sujos que se limitam a ignorá-lo. Levanto o braço convocando-o. Caminha
até junto de mim com um desses sorrisos falsos que damos para pessoas que nunca
mais veremos na vida. Outra, patrão, pergunta. Aquiesço e ele sai para buscar
outra cerveja.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
Meu relógio marca sete e quinze,
a noite já começou. Não devo ter prestado muita atenção – sempre fui muito
distraído mesmo –, mas de repente o bar se encheu de novos rostos. Às vezes
gosto de ficar olhando para a cara das pessoas, muito embora a maioria não
goste. Entretanto sempre existem os que não dão à mínima para meu ato e é deles
que extraio material para algumas de minhas reflexões. Noto, por exemplo, o
casal sentado a uma das mesas: um homem careca e uma mulher de olhos tristes.
Concentro-me nela, mas não consigo precisar a sua idade. Sei que é uma mulher e
deve estar na idade em que são mais interessantes, em que têm mais coisas a
oferecer. Já o homem tem traços mais discerníveis, com certeza deve ter passado
da casa dos cinquenta. Ele observa atentamente os esgares da mulher, o
movimento de sua boca, o vai e vem de sua mão que segura um cigarro aceso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
O garçom traz minha cerveja.
Está geladinha, meu patrão, diz. Olho para ele e esboço um sorriso – sujeito
antipático esse garçom – é o máximo que posso fazer. Ao tomar o primeiro gole
percebo que mentia ou não sabia distinguir o frio do quente – o que deve ser
péssimo para um garçom –, pois a cerveja não está gelada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
Torno a procurar o casal.
Continuam como estavam em minha lembrança. Ela inquieta, com outro cigarro na
mão, falando demais, fumando demais. Noto que seu corpo fala uma coisa, mas
seus olhos tristes dizem outra e o que seus olhos dizem é claro: seu corpo
mente. Enquanto ao homem, permanece atento, como se quisesse pegar no ar cada
palavra que ela emite, como se a atenção dada fosse um passaporte para uma
noite que já, já começa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
Olho outra vez para o relógio,
mas gesto mnemônico nem reparo as horas, insisto em pensar no casal. Todos
existimos neste cenário sujo, porém não sabemos da existência de nós mesmos; eu
com minhas angústias, eles com sua conversa. Penso em sentar à mesa com eles,
cear a conversa deles. Permaneço onde estou sentado. As moscas não rodeiam mais
a minha cabeça e o cão que lambia meus sapatos já me abandonou faz tempo – eu
devia ter pedido um tira gosto e implorado sua companhia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
O casal parece entrar em
sintonia, porque pela primeira vez sorriem juntos. Busco novamente os olhos da
mulher, já não me parecem tristes e o homem que a acompanha – e isso não sei por
que sei – não o percebe. Tenciono pegar o copo e sorver a certeza de que a
tristeza da mulher se esvaiu de seus olhos, mas ele cai de minhas mãos e se
quebra no chão. Meu rosto se multiplica nos vários cacos epalhados e eles –
todos eles – exibem a mesma expressão de embriaguez. O barulho deve ter sido
enorme, pois todos – até mesmo o casal – olham em minha direção. A certeza de
que estou bêbado aparece e a sensação de que ninguém me notava desaparece. Já é
hora de ir. Chamo o garçom – que leva uma eternidade para vir – e pago a conta.
Recebo com o troco um volte sempre. Voltarei, digo, mas minto, nunca mais porei
os pés aqui, e apenas eu sei disto e somente eu me importo com isto. Caminho
trôpego e bêbedo por entre as mesas e por um instante – apenas um – paro em
frente ao casal. O homem ignora-me completamente, contudo – e isso que me
importa – a mulher sabe eu estou ali – sei que sabe. Olha-me curiosa e seus
olhos não estão mais tristes – os meus também não. Saio do bar. Do lado de fora
quem me afaga é a noite. Presumo que deva ser umas dez e meia, noite alta,
portanto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
Meu dia está apenas começando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="tab-stops: 35.4pt 70.8pt 106.2pt 141.6pt 177.0pt 250.45pt; text-align: right;">
São
Luís, 21 de fevereiro de 2014.<o:p></o:p></div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-87532075641477618982014-02-15T06:07:00.001-08:002014-02-15T06:07:19.122-08:00Um homem na praia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-zZsq0yu8xsA/Uv90DJGKfAI/AAAAAAAAAQE/E2e6Sms_peo/s1600/homem+na+praia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-zZsq0yu8xsA/Uv90DJGKfAI/AAAAAAAAAQE/E2e6Sms_peo/s1600/homem+na+praia.jpg" height="188" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O sol perde-se na linha do
horizonte. Mais adiante, no mar, os navios flutuam preguiçosos na arrebentação.
Um homem curva-se cansado, a caminhada lhe parece mais distante. Em seu cansaço
pergunta a si mesmo por que caminhou tanto. Porque eu podia caminhar tanto,
porque eu posso caminhar tanto, diz como verdade intransigente, mas o curvar
doloroso da coluna está ali para desmenti-lo. A vida passa tão rápido como esta
caminhada. A frase dita assim é força, força necessária para movê-lo para longe
daqueles paralelepípedos desafiadores. Pergunta o que fez de si mesmo. Ora,
responde, fiz muita coisa, fiz o que pude fazer de mim: nasci, trabalhei, tive
filhos, enviuvei, estudei, amei e até cri. Pensa na falta de originalidade no
final de sua frase, de como ficaria melhor no poema do Pessoa e não em sua
caminhada. É estranho pensar em tudo aquilo sem saber por que se está pensando
em tudo aquilo. Não poderia pensar na própria vida? Era pecado? Não tinha
valido a pena? Tinha. Tinha sim, mas, afinal, não estava dando apenas uma
caminhada descomprometida, só uma caminhada descomprometida? Levanta a cabeça.
O calçadão com seus paralelepípedos estendem-se infinitos seguindo a orla. A
lua se põe em seu lugar. Os navios acendem suas luzes, desenhando falsas
estrelas no oceano. As pessoas caminham, terminando seus exercícios, cumprindo
o dever de ter um corpo saudável. Tudo se move. Tudo está em movimento. Menos o
homem que insiste em permanecer curvado, alheio à vida pulsante ao seu redor.
De repente enrijece o corpo. O caminho à sua frente é o mesmo, mas não é mais o
mesmo, é outro. Respira profundamente, sente o ar arejar-lhe a cabeça. Os
músculos, os velhos músculos que estão lá desde o começo dos tempos, voltarem a
funcionar. Sente algo despertar dentro de si, algo que provoca revoluções, as
mesmas que movem o universo todo. Torna a caminhar. Sorri. Acena para os
desconhecidos que cruzam seu caminho. Sente lágrimas banharem seu rosto. Não é
apenas um caminho, pensa, e todas as nossas batalhas são disputadas dentro de
nós mesmos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
vida valeu a pena. Valeu mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
São Luís, 12 de
fevereiro de 2014.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<o:p></o:p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-2579056693168749222014-02-07T13:55:00.004-08:002014-02-07T13:58:36.831-08:00Olhos de boi <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-iQkzX8Xjmcg/UvVV1YDQOkI/AAAAAAAAAP0/TSXzdb_Ud20/s1600/olho+de+boi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 0px;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-iQkzX8Xjmcg/UvVV1YDQOkI/AAAAAAAAAP0/TSXzdb_Ud20/s1600/olho+de+boi.jpg" height="256" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ela não era
muito jovem para estar casada, mas com certeza o era para ser viúva. As duas alianças enfiadas no mesmo dedo da
mão esquerda, como ordenam os ritos cristãos, não deixavam dúvida alguma:
enviuvara.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Podia
até ser que não tivesse perdido o marido e que as alianças – que naquele caso
assumiriam o papel de simples anéis – estivessem ali somente na condição de
adorno, nada mais que uma questão de estilismo, coisa comum da juventude. Acreditei
na primeira assertiva, aquela que a colocava no grupo das santas mulheres que
vestem preto. Além do mais – imaginei eu
– exibia sinais de quem havia perdido a pessoa que lhe segredou histórias nos
ouvidos; que certa vez perdeu o olhar em um ponto qualquer de seu corpo; que
perdia seus cabelos entre os dedos; que observou a gota de suor que escorregava
de sua nuca. Olhei mais atentamente para a mulher e achei que estava curvada,
com o aspecto cansado, com a juventude morando nos olhos de quem a olhava à
distância, pois observando-a mais de
perto, dela se roubava com facilidade uns dez anos ou mais. Senti que não era a
velhice do tempo. Era a velhice da perda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não
sei se era bonita, talvez até fosse, não reparei. Notei sim que tinha um enorme
par de olhos bovinos. Nada sei da natureza dos bois, mas isso não me impede de
comparar os olhos da moça aos desses animais. Pode parecer estranho isso, mas
quem já esteve em um matadouro sabe do que estou falando. Eles – os bois – ficam
lá parados, pacientes, totalmente alheios ao que os aguarda, esperando o
inevitável desenrolar dos acontecimentos. Assim como o olhar bovino, o olhar da
moça mostrava conformidade com a natureza de alguma espécie de destino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
moça podia não ser viúva e eu podia estar enganado. Na verdade, pensando bem,
ela poderia ser qualquer coisa, entretanto, conforme os detalhes que ainda há
pouco expus, achei que fosse. Quando ela foi desaparecendo de minha vista, com
certeza dando prosseguimento à sua própria vida, percebi que eu não teria certeza
de nada. Ela podia ser uma irmã de sofrimento, podia não ser. Podia ser uma viúva
de olhos bovinos. Podia ser qualquer coisa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
P.S.: Depois de tanto tempo, é
bom estar de volta.</div>
<o:p></o:p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-65374913560720640862013-01-24T18:26:00.001-08:002013-01-24T18:27:07.780-08:00Desabafo<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/_A3XxpfyJukM/TTRbF3RUobI/AAAAAAAAAgg/xQndJK58_ho/s1600/escrever.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="http://2.bp.blogspot.com/_A3XxpfyJukM/TTRbF3RUobI/AAAAAAAAAgg/xQndJK58_ho/s320/escrever.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A grande fraqueza de minha
existência é e sempre foi a nostalgia. Não sou muito velho nem vivi muita
coisa, muito embora, acreditem, tudo o que vivi tenha valido “até os ossos”. Emociono-me
como os antigos homens se emocionavam diante das ruínas que permanecem alheias
ao tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Emocionado,
foi assim que me senti ao olhar o “Palavras” depois de tanto tempo de ausência
e ainda mais hoje, que me encontro resumidamente triste, diante de uma noite de
quinta que insiste em existir. Atentamente olho o <i>blog</i>, parece há muito abandonado. Releio alguns textos, imaginando
se existe mérito literário em qualquer um deles. Não devo ser a pessoa mais
indicada para respondê-lo. Releio também alguns comentários – muitas pessoas
queridas que apenas conheço no mundo virtual, uma pena mesmo. Algumas dessas
pessoas revelam que as ajudei com meus textos, coisa que sinceramente espero
ter feito, porque a gente não simplesmente escreve, a gente escreve para o
mundo todo ou apenas para quem queira ler. Se não fosse assim, não se faria
nada. Mas também fui muito ajudado por aqueles que dizem que ajudei e por isso
sou muito grato (onde está o limite do que sou enquanto escrevo e daquilo que
sou enquanto sou lido?)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nunca
pensei em acabar com o <i>blog</i>, mas
escrever não foi opção nos últimos tempos. No entanto – e isso muito me admira –
como posso viver no mundo sem poder descrevê-lo em palavras? Como omitir esta
vontade de falar em tudo, como se o texto que carrego no peito se pusesse a fugir
para fora de mim e quisesse dizer de tudo muito mais do que permito? Nada sei
da qualidade daquilo que escrevo, apenas o faço sem pensar muito e sacio um
desejo que apenas eu conheço. Apenas eu.<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Palavra,
se me aceitas, te recebo como noiva.<o:p></o:p></div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-31954729004239750142012-08-17T17:26:00.002-07:002012-08-17T17:27:43.453-07:00Todos os nomes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/_m2Fc_CcEtzY/TBUDq63gQPI/AAAAAAAAAY8/liSbk-Ob2uM/s1600/sem+palavras.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="235" src="http://3.bp.blogspot.com/_m2Fc_CcEtzY/TBUDq63gQPI/AAAAAAAAAY8/liSbk-Ob2uM/s320/sem+palavras.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma flor é apenas uma flor quando
tu simplesmente a nomeias por flor. Quando dizes sol, acaso não defines o astro
gigante que dá vida a todo vivente? Quando falas pedra, sentes o peso da
palavra e onde reside todo o seu discurso. Quando falas em alma, amor e Deus,
refere-te ao reino da pura palavra, onde tudo é perfeito e atingível. Quando abres
a boca e dizes a palavra palavra, descreves com perfeição atividade e produto;
colocas nas pontas opostas da mesma linha o terno e o eterno: uma ponte que
toca dois mundos, o do dito e o do não dito. Erguida a ponte, resta que se diga
que quando verdadeiramente dizes alguma coisa – qualquer coisa –, dás a essas
coisas nomes – todos os nomes –, aquilo sem o qual nada neste mundo pode ser
amado ou odiado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Para José Saramago e
João Cabral de Melo Neto</div>
Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-77519030526064452732011-08-21T09:08:00.000-07:002011-08-21T09:19:19.189-07:00Uma questão de imagem<a href="data:image/jpg;base64,/9j/4AAQSkZJRgABAQAAAQABAAD/2wCEAAkGBhQSEBQUEhQUFRUVFBUWFBQVFBQVFBUVFRUVFBQUFBQXHSYeFxkjGhUVHy8gIycpLCwsFx4xNTAqNSYrLCkBCQoKDgwOFA8PFCkcFBwpKSkpKSkpKSkpLCkpKSkpKSkpKSkpKSkpKSkpKSwpKSksKSksKSkpKSwpKSwsLCkpKf/AABEIALABHgMBIgACEQEDEQH/xAAcAAABBAMBAAAAAAAAAAAAAAAHAAMEBQECBgj/xABUEAABAwIBBAgPCg0EAwEAAAABAAIDBBEFBxIhMQYTQVFhc6PSCBQiNFRxgZGTobGys8HwFyQyRFJTksLR0xUjJUJDY2RygoOiw+EWM3SURWLxVf/EABcBAQEBAQAAAAAAAAAAAAAAAAABAgP/xAAdEQEBAQEAAgMBAAAAAAAAAAAAARECITEDEjJR/9oADAMBAAIRAxEAPwA3bS35I7wQYq8vL2SvZ0lEcx72324i+a4tvba+BGpeP8V64m46X0jkBXjy7vPxKLwx+7TrMuLz8Si8Kfu0JYHKa16zoKAy2v3aKLwp+7W7ctZ7Ei8Kfu0L3P06b/bwJrbdBU0FM5bnblHF4U8xae7g/sOLwp+7QuDtaV00FRmWt5PWUXhT92nPdnffTRxeFPMQtad1SIw42TQSjlqPYkfhDzFhuWhx+JxeFPMQ0dHYpyMhNBIOWh3YcfhDzEhlnd2HF4U8xD18HCm8yyaCQMszuw4/CHmKR7rjrD3rFp/WHmIaxQ3OhbFltabQSxlXPYsd+MPMWH5V3j4pH4Q8xD2J+pWlMQ4aR4lNo6o5XXdiReEPMW0WVtx+KR+EPMXLPpmXOge3Ao4jaHWTaO0flYcPisfhDzE2crjuxIvCHmLj3FtlHIB1JtHbHK6/sSLwp5i1GWF3YkfhDzFxUjO+opdp9tau0d+csD+w4vCnmJs5ZndhxeFPMXByC43vbdWNp3dWlNo785Y3X60i8KeYtRlmd2JF4U8xcGYbG+v7U25l02ggDLK86qOLwp5i0OWeTsKLwp+7XAWstttG6m1Xcuy3Pv1nF4U/dpqTLs4G3SUXhT92h3JSWJIvpUWSLSmoJZy8P7Ci8Mfu027L68fEYfDO+7QwkbbSo8iuj0Jk3yjHFJZmOpo4tqY112vL75zi22lotqXfbQ35I7wQP6Hrrqr4mPz3I5rQS8f4r1xNx0vpHL2AvH+K9cTcdL6RygUT9Cfjn0qKxqfhYFkSHEnWtcxbmNXuwrDo5pZBI0uAYDa5AvnAX0HtrNuTVk24oLrUNVrj9I2OpkYy4aLWBN7XAOs6d1QQBZWXZpZng9CB3FMZ/wDFFa0W0KbHBfVoREaSI699KOFT3Ux3U01tjqQOwQXFjewT34Ptp02WKOpGd3VfUtnODdOk+oqW4smqF0NjcDR2k094N9S6HFKJrH2FxdoOq4uSdGhVTqXTua9egqS7NLM8IMUdyrzD49B16kxFRj2HrU1jAG/YqNJYymc3R7aFJazQmpYzp3AgrqzeB9t9Q2NN9KsJGe1k26NBo0FMPGk+2lW2H4ftmdc2tbUL6Tf7FVTRWc7eufKpOpbhZ41g6EnyLVxG/wCRIEf4WkNufcrGcdKblOnQtRqP2oN3HfTbiU1nLLLkgX1kDc3eBBq6QjWmZ5NCvcfwNsMEcjC4lzgDnEW0tzhYAaNSoxbN0qS75i2Z4QJpVHkcpUzdGlRHhbQU+h766q+Jj89yOaBnQ9ddVfEx+e5HNaCXj/FT74m46X0jl7AXljEtiEzp5SySldeWQ2FVDnC73aCCRYhSiljKfG5/hTW7D6sfoS7hZJE4du4cnjsWrB8Wl7mafIVkQjJoXW5PP92Uj5sedoXOPwGpb8KnnH8t/wBi6DYXhkwE4IkgcWx5rjHY2u8mwe2x1eNc/l/Nb4/UUmN1edUym2uRw+ic31JiN25upYlHmTyNuSBI7qja7tJue6blKOQaFqeozfdSIGnOCt4W7xCrIbX06lMFQLaO6qJ7wLa9xRJIbrU14WX1IKDEcJDt4K9wmX8cy53dG9qKohUKbhshdKwNIDuqLdFxcMda47viWOvVXn3Fzjrvx2v80aO+qoyNGk2vwDSo+JzyRyuEzmueQ03a0tAFiBoJJvr3VA6bunH5i9+6voJ2kDtp9k4ub5ttw7p3dO8ufp5d5SBJwrTK6MwvossTOCon1lt1MuxJBbvaL8KYfr9vEoTa8FOyP4UF5gcoIfwEA9648RVDVNuVY0JfHTyFjC/PL3XDmtzbMawE5x0/BOpVTdWneXLj9dV079cophN1lsR3E9I9adM2C7OTLz4wmLHT7dpMzV2lRHV2lMVNOj28SZ1G6iTV43++mfwhf/BVR3WyKTPw2Jw3HMI37Wc31hcK6YrrazD3Ow1r2vksyJh2sHqSQW6SLXvY37i5Omw+V56iKV1/kxvPkC5/H6b79mnuvrTM777gHaVxHsYqnaqafwTx5Qsv2F1mvpd4/eLG+cQujDuOh766q+Jj89yOaDmQ3AJ6eoqTMzMDoowOrjcbh7txriR3UY1uBLxxjI98TcdL6Ry9jrxxjHXM/HS+kcgvcmmxWPEK9tPKXtYY5HkxloddlraSCLXO8ujOEbH7kNxSqYQSNMTterXtCbyCs/Kcjj+bSTH+uEIUvdck75v31AYIsFwn9Hjsje21w5q6DAqKGJr9pxDp5pIu65/FWv1Olztd77nwV59VlheyOop2ubDK5jX/AAgLEHQRug7hWO+Ptzka5uXRqkwVz3ExY9SZriS1hfE7NB0hty86ho7idi2KVh+DidDJvXcw/UK8/wB0rreRNeh3bC6/XtlBJ/Cw/wBpcnj1ZJSzGKeCjc4NDtEQIsb20jN06EMMFZnVMLd+WMd97QiblTf+UpeBsY/oB9algr4MZMj82OihkcbkNZHK51hrs1rrqwbHVH/xR/6lR9qxkef+WIeFkw5Mn1KnxrK7irKiZjatwayWRoG1w6A15AHwN4Jgv2UdWf8AxLrf8epHrVnhlBUCRrpMOMLRe8u1ytzNBH5xtp1d1D05X8VPxyT6EQ+osR5WcSzhtlS+Vn50b7ZjuB2aAfGp1zsqy5RHxzBppZc6OgdUDNA2wOkAvp6mzXAaL+NRIti9X/8Ak8pIO/eRcDWZU69zrxTvgbYdRE5zW3+Vpubn1KK7KRiR+PVXcmePIVOOM5kp1dosQbEajdw2385w8r1XYqwU78yakzXWBttz9RvbSLjcKGhygYidddV/9iXnIrZVXe+RbdiZ5z1bEcxPicG7T9zbpPsurZuxepcxsjMLLmPaHtcJ3G7XC7TYPvqN9S4aWQ6V3WV7ZRVUTsPipqiWG1EwuEb3NDj8EFwGg/AKSCM/BahuvCZR2umj4xdaSzlg6rD3N7fTQ8q5WDK5irNVZIf3mxv85pVhBl1xZuudj/3oIvqtCv1NdgKpraLbNrDRtZdtZc+1iToLj1Wm/jXOf6li7Gh+nMfrqOzLVUZ+2vhhfLe+c7O2s6M3TGODedr0qc3Ls53+9htC/wDgI87OXPjizd/rXXW43ixiMi4pYfpTc9M1OMRD4rAf4ph5HqSzLNRH4eDU/wDA9rf7SvKqehrcFmrIKMU72zthb1Zcb3iLiLG1iHkaQt/VlyuH1zaieKCOkpGule1jXP24tDnGwJIde3cXYyZPZ4yQX4NEd0Fr3EdvbFxGxAWxKjP7TD45GhVeV5lsbrB+sae/FGfWrICP/pOYa8TwmP8Adig9YWPwC5uvH6Bn7raZvc0PCBCSuRHoGGIFj4xXsms0NdWxFpDCW6XnNcQC0abX3OFVE2D0Z/3NkZd2i71SlBqOqe0Foc4A6wHEA9sDWm7rPPGa1buC8/AMH/Pxt7v4HH1FVmUDYhDRspX08z546mN0jXvDR1I2ssLQADpD91DQIvbP9OEYI79lcO8yD7FplY9D0PfVXxMfnuRzQN6Hvrqr4mPz3I5KhLxxjHXM3HS+kcvY68cYuPfM/HS+kcpR32RI5s9c/wCRQSn+pp+qhMUWMkozafF3/JoHeNsp+qhMkCSSSVCSSSQW+xCPOxCkG/VQDlWLvMpb74jP22DvRsXHZPIs7FqIftMR7zgfUuoygPviNTxlu81o9SlEnJDoxqn7Uw5GRcBsobauqhvVEw5Vy7vJK62M0vblHISriNmTbYjWDeqqj0z0gp0kklQkkkkGQjflRd74j4YGec9BAI45RDd8B0aaaO3jUvpQ+e25A39Hf0K+6IR/5UjYNUdJE3+uU+sKuw+LPqYW/KmiHfkaFtl1nzsbnHyGQt5JrvrKQofpJJLSEkkkgSM+BxZuxWP9bWOPbsXD+2gwjS/qNjOGt+XLK/8Aqn5wUo5rY9orqU71TB6VihZaWWxyr4TEe/BEpGEvtVQHenhPKtWMubLY5UcLYDyLB6ki1wKSSSqEkkkgyEW9mZvgWDHejkb4mD6qEaLeyU32N4Qd58o8cnNUoteh766q+Jj89yOaBnQ99dVfEx+e5HNUJeOsWHvmfjpfSOXsVePMXHvmbjpfSOUo7rJz1OFY479ka3vsqPtCExRY2G9Tsfxl++Im98W+uhMUgSSSSoSSSSDrMlUedjFGN6Qn6LHu9Su9mumuqj+vk8TiPUq7IzFnY1TcAmPeglVnsljzqmoN9c8p5RylDmS3RjFJ++/xwyLj9nTbYpXD9rqPTPXZ5OYC3F6M/rHeOKRchlDFsWrv+XP6RxSDnkkklQkkkkCRs2eydandNLF5P8oJovZQfgUJ36OPzW/apRUbE487E6QftMJ7geHHyKoyuz5+NVh3pGt+jGxvqV/k1hLsXpAdyRzvoxSO9S4/Z/Pn4rXO/apwO0JHNHkSCgSSSVCSSSQZCNuyZmZg2Ds1e9y/6TYz9coIo45QmZsGGR/N0Md+62Nv1FKOFppM2aM70jD3ngqdl7ZbGpDvxQn+i3qUExdUDvEH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<br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu nem queria entrar para assistir àquela exposição, mas como a senhora que estava à porta me convidou com tamanha amabilidade e dado que sou péssimo em declinar certos convites, fui caminhando, sem pestanejar, para a entrada da galeria. Pensando melhor sobre o ocorrido, creio ter entrado ali somente por sustentar a ideia de que a senhora do convite não entendia nada de arte – uma opinião que, imagino agora, só podia ser sustentada por puro preconceito – e aquele esforço em explicar tão metodicamente algo tão complexo, me havia deixado, de certa forma, comovido. A senhora, julguei na hora, em vez de um <i>folder</i> explicativo da exposição, ficaria melhor com um rosário nas mãos. Ela tinha cara de carola. Com certeza estou errado, sei disso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Era uma exposição fotográfica de um francês radicado aqui em São Luís, o que é muito conveniente para uma cidade fundada pela França. No geral eram fotografias em preto e branco de pessoas comuns de vários lugares do mundo, registradas em seu cotidiano. A fotografia é uma dessas artes que muito me intriga, por parecer fácil. No entanto, a fotografia envolve um grau de sensibilidade muito grande da parte de quem bate a foto. Eu, que ao longo de minha vida fracassei miseravelmente em quase todo tipo de arte que tentei produzir, considero o fotografar difícil, porque o trabalho das imagens exige que se capte a essência delas ou em um sentido mais cristão, o fotografo tem que se apropriar da própria alma da imagem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Fui passando a vista foto por foto, embora achasse que meu olhar de leigo não pudesse avaliá-las corretamente (se é que elas serviam para este fim), mas fui me sentindo tocado por todos aqueles lugares que eram lugar nenhum. Provavelmente eu havia visitado um ou outro, através dos livros que já li e das histórias que ouvi. Assim como o fotógrafo, gosto de tocar a alma das pessoas quando posso, só que ainda não aprendi a fazer isso com as imagens.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Distraído como estava, não notei o jovem que entrara após minha chegada e que também observava com fervorosa curiosidade as fotos de todas aquelas pessoas e todos aqueles lugares em que ele provavelmente não havia pisado. Por um instante, olhando-o diante das fotografias, na mais absoluta posição de gente curiosa, apercebi-me da imagem que se formava à minha frente. Parecia que eu estava sendo capaz de captar a alma daquela cena, encerrando em minha retina tudo o que aquilo significava: um humano que olha outro humano, tirando do simples evento a poesia que é fornecida pelo instante. Tirei do bolso meu celular, foquei no rapaz, que de costas para mim, não podia me ver, mas não tirei a foto. Devo ter ficado com medo de sua reação ao perceber ter sido fotografado por um desconhecido, que sabe Deus em que poderia estar pensando, em um momento que deveria ser tão íntimo. Ou então não o fotografei pelo simples fato de não ter que fotografá-lo, pois existem momentos que, dada a importância que possuem, não devam mesmo ser registrados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Aquele instante ficou em minha cabeça e resolveu simplesmente não sair de lá.</p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-30680761941760106412011-08-13T16:33:00.000-07:002011-08-13T16:34:04.287-07:00Comunicado<p class="MsoNormal">Boa noite a todos.</p> <p class="MsoNormal">Gente, gostaria de informar aos senhores que me mantive afastado para que fossem resolvidos alguns problemas pessoais. Como sempre achei que a escrita requer certa paz de espírito e muito respeito ao se compor algo, achei mais sensato me abster de um prazer tão grande.</p> <p class="MsoNormal">Informo a quem se sentir interessado que a partir da próxima semana volto a escrever com regularidade e também visitar o espaço de alguns grandes camaradas que tenho na blogosfera. No entanto, não me limitarei ao Palavras Que o Vento Leva, onde falo de minhas impressões do cotidiano, mas passarei a atuar nos outros blogues que também possuo, A Casa da Filosofia (onde abordarei filosofia numa perspectiva não acadêmica) e o Café, Pipoca, Cinema & Literatura (um lugar para se falar de 6ª e 7ª artes, respectivamente, boa literatura e bom cinema).</p> <p class="MsoNormal">Bom, aqui seguem os links:</p> <p class="MsoNormal"><a href="http://cafepipocacinemaeliteratura.blogspot.com/">http://cafepipocacinemaeliteratura.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"><a href="http://acasadafilosofia.blogspot.com/">http://acasadafilosofia.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal">O Café, Pipoca, Cinema & Literatura ainda não possui postagens, mas começarei a postar na próxima semana. Então até lá.</p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-86332626764642436322011-05-23T10:55:00.000-07:002011-05-23T11:27:36.226-07:00Indicação de selo<a href="https://lh6.googleusercontent.com/-NQLtW4XSmQI/TYVEbPSEvZI/AAAAAAAAAfo/0GbwIfH4G04/s1600/PREMIO_N1.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 160px; height: 160px;" src="https://lh6.googleusercontent.com/-NQLtW4XSmQI/TYVEbPSEvZI/AAAAAAAAAfo/0GbwIfH4G04/s1600/PREMIO_N1.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Embora não ande dando a devida atenção a este blog, não posso ser mal agradecido e esquecer as pessoas que ainda passam por aqui para dar uma lida. Mesmo atrasado (creio que um atraso de alguns meses), publico a indicação de selo de minha cara Petit Gabi do blog Só vim para escrever. Abaixo seguem meus indicados:<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vem cá Luiza, me dá tua mão - Vanessa Souza Moraes<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tais desatinos - Filipe Jardim<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Trinta e Poucos anos - Erich<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Uai mundo? - do meu inestimável amigo José Cláudio<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Porto das crônicas - Taís Luso<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Afeto literário - Letícia Palmeira<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Maldição eletrônica - José Geraldo<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vanessa Campos Rocha - Vanessa Campos Rocha<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Pensamentos que voam - Sil<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Só pensando - Adriano Cabral<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Inspirar poesia - Mai<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Essência abstrata - Sara Portugal<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu, Thiago Assis-Thiago Assis<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Estou numa ilha deserta - M. F. S. Holloway<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Entre o sonho e o poema - Viila-Cruz<o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Todos grandes leituras.<o:p></o:p></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-18585484791730195712011-04-22T16:55:00.000-07:002011-04-22T17:01:37.177-07:00Os homens do mar<a href="http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQDSrebbd1PjlPLYghurCSpBd2eWvmLrDpkyLJghm-giCmhSmBM" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 275px; height: 183px;" src="http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQDSrebbd1PjlPLYghurCSpBd2eWvmLrDpkyLJghm-giCmhSmBM" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Por entre as grades de proteção da ponte do São Francisco dá para ver o mar – mas que quase ninguém vê quando toda vista vira rotina. Às vezes dizem que o mar não está para peixe, mas por aqui sempre está. Toda hora tem algum pescador de linha, tarrafa ou barco; aqui e acolá uma ave marinha qualquer mariscando na baba do oceano.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Três homens lançam a tarrafa à sorte, tendo ao redor de si um mar agitado, ainda que este lhes bata na altura da cintura. A experiência do mar é suficiente para que tenham respeito por ele e não medo. O utensílio com o qual pescam e que é conhecido por tarrafa tem um aspecto tosco, sem mencionar a impressão de inutilidade que passa. Contudo muito se engana quem à primeira vista de algo relega-o quase que imediatamente aos vasto espaço do imprestável, os pescadores, que não diferenciam essência de aparência, a utilizam com precisão, enquanto a filosofia não se decide. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>O mar não é mais visto como antes. Respeito, prudência e reverência são atributos que carrega apenas por ser o que é em si mesmo. Os pescadores, cujas peles brilham ao sol do impiedoso começo de tarde, mais do que tirar das águas aquilo que é capaz de lhes dar sustento e a própria identidade (uma força que define o que somos pelo que fazemos), rezam no silêncio a inconsciente oração do homem que tudo sabe e nada sabe; esquece e não esquece; a oração de quem se espanta com o mundo que tudo cerca de alegrias e tristezas. Os três pontinhos no mar são apenas homens que pescam peixes. O mar não diferencia homens de peixe.<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-37867864737362955002011-03-16T15:41:00.000-07:002011-03-16T15:45:54.009-07:00Humana oração<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSVSllJXEXpd3CyGVuoG02aA6yNHepR9BPkbUmB0xsS3hju9nn3"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 259px; height: 194px;" src="http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSVSllJXEXpd3CyGVuoG02aA6yNHepR9BPkbUmB0xsS3hju9nn3" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Deus – que todos sabem, excede em sabedoria o pensamento de qualquer homem – fez de mim homem pequeno. E mais ainda, pequeno entre os pequenos. De tudo que acontece neste mundo, vejo que em quase nada nele possuo par. Se alguém me aponta algo e diz, e tu, o que achas, me escandalizo e em cólera apenas posso retorquir, que sei eu deste mundo a ponto de me aventurar com a possibilidade de dizer algo sobre ele?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Não penso muito nas pequenas coisas e menos ainda nos grandes milagres que por ora estão cá neste mundo. Penso às vezes nas grandes frustrações, nas limitações que, por natureza, estão presentes em mim e às vezes me conformo ou então simplesmente me debato com o aquilo do qual não sou dotado de entendimento. Sou pequeno, sou limitado e afinal, quem quis que as coisas fossem assim?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Deus, onde estás nesta hora em que me afligem as angustias que me comem o juízo? Dizem que tu, para morares em todo lugar e amar a todos em igual maneira, dividiu-se em pequenos pedaços, porque és enorme e é dessa grandeza de que agora depende o meu espírito – porque embora limitado e frágil como um vaso de barro, tenho um espírito e este é imortal. Deus, que nestas horas vela por mim, que sabes da queda de cada fio de cabelo meu, ampara-me, me mantém atado, untado e firma à tua vontade. Mas eis que brota em mim a condição humana e esta vontade insaciável do Ser tornar-se não-Ser e já não tenho a mesma força de antes. Agora que o pensamento domina a matéria de que sou formado, infundindo em cada fibra da existência o gérmen do medo, volvo ao alto os olhos em busca de auxílio. Deus, tu que és capaz de cuidar das grandes coisas, volta também teus olhos aos pequenos homens!<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-80006271356597353272011-02-28T13:46:00.000-08:002011-02-28T13:48:25.760-08:00Um adeus a Moacyr Scliar<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_ZbTjxAtGev4/TCo3Bb8spQI/AAAAAAAABqs/tMLAne1iCP0/s1600/ms.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 245px; height: 352px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_ZbTjxAtGev4/TCo3Bb8spQI/AAAAAAAABqs/tMLAne1iCP0/s1600/ms.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Sempre fui fascinado pela figura do escritor, até mesmo porque sempre desejei ser um. Em termos de literatura, a minha cidade, diferentemente do que foi no passado, é muito periférica. Os nossos escritores tendem a adotar certas formulas e permanecer para sempre nelas – é uma pena, pois grandes valores de São Luís se perdem ao utilizar velhos truques. Têm também os escritores mais antigos, esses sim, com estilo próprio e talento inquestionável. Posso citar Augusto Cassas, Ferreira Gullar, Nauro Machado, como exemplo dessa estética insuperável.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Conheci os três pelos caminhos da vida, mas sempre senti falta de outros grandes homens de letras, aqueles que estavam para além de meu estado de nascimento. Graças a Deus as autoridades locais resolveram realizar uma feira anual do livro, grande chance de conhecer escritores de muitos outros lugares. Na primeira feira do livro de São Luís, tive a oportunidade de conversar com Moacir Sclyar e acabei corroborando uma antiga impressão que tinha dele: a de um grande homem, cuja atenção por quem está no começo é exemplar. Conversamos, trocamos e-mails e posso dizer que lhe enchi muito a paciência pedindo opiniões acerca daquilo que eu escrevia. Em nenhum momento, e olha que esses momentos foram muitos mesmos, ele se mostrou irritado com minha insistência e leu e comentou tudo o que enviei. Quem é capaz de fazer isso para um desconhecido hoje em dia?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Foi vendo a internet no domingo que soube da morte de Sclyar e fiquei arrasado. Sclyar era um grande homem, não apenas pelo que escrevia, mas pelo tipo de pessoa que foi. Isso não deve ser novidade para ninguém e provavelmente mensagens semelhantes devem correr por toda parte no mundo virtual, mas para mim é muito significativo poder falar de alguém que fez o favor de me ouvir. Com certeza vou reler muitos e-mails hoje e lembrar de conversas antigas, e pensar em um grande amigo e influência que tive. Os últimos dois anos não tem sido fáceis, primeiro Saramago, depois o Sclyar. O mundo anda perdendo cada vez mais um pouquinho de sua cor.<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-81975417249806217962011-01-30T13:42:00.000-08:002011-01-30T14:20:47.080-08:00Ética para lugares pequenos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQzCtPyuj4tadpzqKzNJ0Cn3ha2xporCVl_2qil19jzVlDiuFwOyA"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 248px; height: 203px;" src="http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQzCtPyuj4tadpzqKzNJ0Cn3ha2xporCVl_2qil19jzVlDiuFwOyA" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Na faculdade de filosofia tive um professor de Ética medíocre (cujo nome não revelo, a fim de ofender a sua mediocridade) que me ensinou que etiqueta era uma espécie de pequena ética. Quer dizer, uma ética para espaços reservados. É verdade, neste mundo em que nos falta filosofia, existem maneiras de se agir bem em determinados lugares – e sempre existem os que agem bem e aqueles que não agem tão bem.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Supermercado é um desses lugares em que devia ter na porta um livrinho de condutas. As pessoas se portam mal e não possuem o menor cuidado umas com as outras. É verdade, já vi, por exemplo, um engarrafamento de carrinhos de compras, veja só uma coisa dessas! Os supermercados andam superlotados? Com certeza, a <i style="mso-bidi-font-style: normal">Walmart</i> sabe fazer muito bem os seus negócios, mas o que provoca uma fila de carrinhos são as pessoas que não sabem posicioná-los, geralmente colocando-os bem no meio dos corredores – um pandemônio só, que revela a falta de preocupação com quem está fazendo compras. O supermercado é um microcosmo, porém o que se faz em lugares pequenos se faz também em grandes: quem empilha os corredores com carrinhos de compras; engarrafa o trânsito com seus carros; empata a vida dos outros com suas resoluções. É só conferir para confirmar o que estou falando.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Por falar em falar, falar dos outros é falar mal e é isto que estou fazendo: falando mal. Peço que me perdoem, é um exercício que acabo praticando involuntariamente. Voltando ao assunto da pequena ética, seria bom praticá-la para se dar grandes saltos, já que as grandes mudanças acontecem naqueles pequenos atos de que tanto falo. Não deveria ter chamado meu professor de Ética de medíocre, afinal, conseguiu me ensinar o que era etiqueta. Realmente se peca pelo mínimo.<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-54817852653663901612011-01-23T15:08:00.000-08:002011-01-23T15:17:29.118-08:00A mulher, os cães, a enchente<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_AqFnMTZnXk8/TTy2_z2QBmI/AAAAAAAAAN0/xlrz_sk3Ims/s1600/Trag%25C3%25A9dia%2BnoRio.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 188px; height: 129px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_AqFnMTZnXk8/TTy2_z2QBmI/AAAAAAAAAN0/xlrz_sk3Ims/s320/Trag%25C3%25A9dia%2BnoRio.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5565524446888855138" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Tenho pavor da morte, como quase todo mundo que conheço. Não interessa como ela venha, se for suave e rápida ou lenta e dolorosa, simplesmente não estou preparado para morrer – sempre vou achar que esqueci de fazer algo. Confesso que acho o medo da morte irracional, ela é inevitável, mas ninguém acredita nela nem que um dia ela virá.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>O dramático salvamento da mulher presa em sua laje me deu essa exata dimensão de descrença. Vê-la ali, encurralada pela força das águas, buscando uma ilusória proteção ao lado de seus cães de estimação teve um quê de surreal. Seu olhar fitava o vazio, enquanto as águas derrubavam parede por parede de seu frágil abrigo. Era como se ela não pudesse acreditar no que seus olhos viam (assim como eu também, meu Deus, não acreditava); como se a morte, materializada tão agudamente na forma de enxurrada, não tivesse o direito de estar ali reclamando aquelas vidas tão comuns: o quê, uma mulher idosa e uns três ou quatro cães, era isso que a morte reclamava tão insistentemente. Quando a corda caiu em suas mãos e vozes desesperadas gritavam para que ela largasse o animal, a realidade caiu então plausível em sua cabeça, morreria se permanecesse ali. Amarrou-se e num ultimo arroubo de esperança, tentou carregar o animal que lhe cabia nos braços – a motivação de sua escolha era irrelevante, não interessa se era por causa do tamanho ou se era o bicho de sua predileção, ele apenas estava ali, em suas mãos e mesmo que não raciocinasse, como fazem os homens, seu instinto apontava para a mesma coisa que o raciocínio pronto e acabado da mulher: sobreviver.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>O resto da imagem foi exibido nos noticiários à exaustão: a mulher, sumindo nas águas sujas com o cão e emergindo destas mesmas águas sem ele, que desaparecido nas ondas, apenas deixou de existir. Braços, pernas e vozes exaltadas a puxaram para um abrigo mais alto, oferecendo de maneira tão corajosa aquilo que ela buscava tão desesperadamente ao enfrentar a enxurrada, a vida. A morte então havia se consumado em mais aquele pedaço de Rio de Janeiro, pelo menos em parte, já que não conseguiu tragar a mulher. A chuva ainda caia, quando a câmera amadora ainda buscou o que restava do abrigo onde estavam a mulher e os cães, e só podia ser uma coisa, coisa alguma, apenas água. Quanto vale a vida nessas horas é um mistério do tamanho da morte: vale um grito no desespero; uma corda esticada no vazio. <o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-58877239629519309672011-01-16T16:04:00.000-08:002011-01-16T17:08:26.929-08:00A cidade de lama<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.niteroimais.com.br/wp-content/uploads/2011/01/tragedia-25-300x220.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 300px; height: 220px;" src="http://www.niteroimais.com.br/wp-content/uploads/2011/01/tragedia-25-300x220.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Em vida, seu Ribeiro, meu pai, não soube o que foi ter grandes dificuldades. Mesmo assim, isso não o impediu de ter consciência das vicissitudes inerentes à vida. De todas as reflexões que tecia, e que acabava me revelando em nossa relação de pai e filho, uma fincou raízes em minha mente: a de que todo homem, por mais que sofra na vida (porque viver, sem nenhuma força de eufemismo, neste mundo é sofrer), dentro do seu lar é um rei. Isso para mim sempre foi uma verdade. Até hoje.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Quando assisti ao telejornal pela manhã do dia 12, uma panorâmica em uma cidade do estado do Rio de Janeiro revelou-me algo incrível: os noticiários exibiam uma cidade que era feita de lama e que o lugar onde havia ruas e casas cedera espaço a toneladas de entulho. O que aconteceu em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, fez com que eu me perguntasse quantos reis não haviam sido destronados de uma vez só naqueles lugares. E quando falo em destronados, não me refiro apenas à da perda de seus lares, mas à morte de seus parentes e até sobre a perda da própria dignidade. Porque um homem sem seu lar, impossibilitado de defender sua família, não é coisa alguma.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>O que aconteceu no Rio de Janeiro, mais do que uma tragédia anunciada, é a prova de nossa curta memória em relação a esse tipo acontecimento, é aquela incômoda sensação de já vimos isso antes. A lama levou mais do que bens materiais, carregou vidas e sonhos inteiros; matou não apenas as vítimas que morreram, mas também matou aqueles que ainda respiram e que doravante carregarão o remorso por terem vivido mais que seus filhos. Roga-se aos céus para que estes dêem aos homens tempo de reconstruir<span style="mso-spacerun:yes"> </span>o pouco que conseguiram ajuntar. Roga-se ao tempo que forneça consolo a todos os órfãos, a todos os viúvos, a todos os pais que não tem mais filhos para consolar. No Brasil acontece um Haiti todo ano. O que é fatalidade proporcionada pela natureza, confunde-se com o descaso e o despreparo, e já não se sabe quem é o responsável por tamanha destruição. Nestas horas em que não sabemos de que pátria somos filhos, a quem se deve recorrer? Bom, as autoridades nessas horas sabem fazer apenas aquilo que estão acostumadas a fazer quando a água enche. Elas estão “boiando”.<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-51888820597750324912011-01-09T15:26:00.000-08:002011-01-09T15:32:01.212-08:00A fonte da juventude<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_RTT61HhaNz4/SEHKYGWVdsI/AAAAAAAAEIs/N0SbMfyla4I/s1600/fountain-youth-painting-aalq001735-sw%5B1%5D.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 800px; height: 600px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_RTT61HhaNz4/SEHKYGWVdsI/AAAAAAAAEIs/N0SbMfyla4I/s1600/fountain-youth-painting-aalq001735-sw%5B1%5D.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Tudo o que existe neste mundo e é captado por nossos cinco sentidos é perecível. Não importa se é paisagem, barra de gelo ou uma obra de arte, aquilo que é conservado pelas caridosas mãos de alguns homens, é duramente exposto à fúria de outros. Contente-se, aquilo que encanta seus olhos e deleita a sua alma, possui vida breve diante de um tempo que é eterno e vorazmente inconcebível numa mente tão limitada como a nossa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>O tempo é capaz de consumar todas as coisas, a fome excessiva de alguns homens também. Em um país de limites éticos tão frágeis quanto o nosso, não por acaso, vamos perdendo muito daquilo que nos é de direito: a saúde e a paciência em filas intermináveis de hospitais e de bancos; o futuro de nossos jovens em escolas precárias; o pouco dinheiro que possuímos com a carga tributária altíssima que o país é dono. Felizmente até a ambição encontra limites, tanto que existem bens que a corrupção de uns não pode tocar. Por mais que um político desonesto desvie o dinheiro da merenda escolar e da ponte que une um município a outro, ele não pode roubar o que tenho dentro de mim. Aliás, não consegue roubar até o que está fora. A minha juventude, por exemplo, ninguém tira. Um político ladrão (sem maiores ofensas àqueles que usam do habitual expediente de usurpar aquilo que é dos outros) pode vive 150 anos roubando, mas ele nunca roubará um ano de minha vida. Mas sejamos utópicos e concebamos os sonhos que ninguém deseja. Imaginem um mundo em que os políticos desonestos podem roubar tudo, até a juventude das pessoas. Seríamos então um país de jovens, de jovens ladrões. As oligarquias teriam vida eterna, uma vez que permaneceriam para sempre com o frescor de uma juventude roubada. As pessoas honestas teriam cada vez menos oportunidades de protestar, uma vez que a artrite e o reumatismo tirariam toda a vontade de esbravejar contra os desmandos políticos, que seriam muito mais corriqueiros em um país onde os corruptos apenas remoçam. As crianças, ao contrário, receberiam muito mais atenção do que recebem, uma vez que são donas do melhor que a vida tem e já sairiam velhas dos berçários, totalmente sugadas de suas infâncias. Poderia também se fazer tráfico de juventude, exploração não do corpo, mas da menor idade. O pai chegaria mais velho em casa depois de ter trocado cinco anos por um fardo de arroz. Algumas mães poderiam fazer comércio da pouca idade de seus filhos. Seria um país, um grande país e o modelo poderia ser explorado em larga escala e haveria gráficos de desempenho e metas para melhor se roubar os anos alheios. Nós teríamos a fonte da juventude. Nós não, eles, lembrem-se, os que não são corruptos seriam eternamente velhos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Graças a Deus não jorra água dessa fonte. O que falo aqui não passa de devaneio; conversa fiada para outra crônica de domingo. A desonestidade ainda é um veneno muito poderoso na tarefa de estragar o nosso dia, no entanto – e isso não é utopia, mas a mais pura realidade – somos donos de braços e pernas jovens (uma juventude que não pode ser simplesmente roubada de nós), podemos lutar contra os que desejam roubar qualquer coisa. Só a possibilidade de pensar nisto me faz rejuvenescer uns dez anos.<span style="mso-tab-count:1"> </span><o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-19845543706907733132011-01-02T14:56:00.000-08:002011-01-02T15:03:41.086-08:00Panetone<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://exame.abril.com.br/assets/pictures/8031/size_380_bauducco-jpg.jpg?1286680254"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 380px; height: 256px;" src="http://exame.abril.com.br/assets/pictures/8031/size_380_bauducco-jpg.jpg?1286680254" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Minha esposa tem verdadeira loucura por panetone. Não importa a época do ano, ela sempre arruma uma desculpa para consumi-lo. Não sou muito fã de seu gênero alimentar, mas reconheço tratar-se de uma paixão genuína. O amor da minha esposa pelos outros às vezes se manifesta materialmente nas coisas que ela gosta, ou seja, se ela gosta muito de alguém, costuma presenteá-lo com aquilo que também gosta. Minha esposa presenteia suas pessoas queridas com panetone. Outro dia ela viu vários no supermercado – encalhados depois das festas natalinas –, motivo suficiente para levá-los aos montes para casa. Quando chegamos, ela resolveu partilhá-los entre algumas vizinhas pelos mais variados motivos e foi um desses motivos que me incentivou a escrever. A minha esposa daria um panetone à uma vizinha porque esta sempre lhe dava um sorriso. A meu ver, uma troca muito justa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Um sorriso que uma pessoa dá a outra é apenas uma troca de gentilezas, porém é gesto nobre, capaz de fazer toda a diferença para algumas pessoas. É uma pena que a falta de pequenos gestos (que são grandes demonstrações daquilo que podemos dar de melhor) são eclipsados pela dureza dos dias. Carinho, conforto e atenção, mais que substantivos abstratos (conforme aprendemos quando achava-se que a língua não possuía mobilidade) são entes concretos, cuja concretude às vezes também pode se manifestar nos panetones que minha esposa distribui. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Amo muita gente, é por isso que para materializar meus sentimentos, às vezes escrevo algumas palavras. Deve ser esse meu jeito de dar alguns panetones.<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-1543996093700052402010-12-30T11:46:00.000-08:002010-12-30T11:52:13.226-08:00Feliz 2011<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQOpdEt4I6DEZHI_OS0-ao2HtiwQd4MA-YvZwBCRTN6JCcY7jM4Fw"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 259px; height: 194px;" src="http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQOpdEt4I6DEZHI_OS0-ao2HtiwQd4MA-YvZwBCRTN6JCcY7jM4Fw" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Penúltimo dia do ano e eu imaginado as minhas resoluções do ano que virá. No fim das contas são quase sempre as mesmas, pois acabo não cumprindo parte daquilo que havia prometido. Paciência, os anos mudam, mas ainda continuo sendo basicamente a mesma pessoa. No entanto, não é por causa disso que deixarei de ser otimista e continuar pensando em mudanças.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Pode ser que neste novo ano eu leia mais ou então me decida por dar menos atenção aos meus desejos privados. Não sei, tudo é muito impreciso. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Que este ano eu possa dar mais de mim e fazer-me essencial nas horas de dificuldade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Que eu compreenda a impossibilidade de tornar os dias mais longos, mas entenda que mesmo assim posso torná-los melhores.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Que este ano eu tenha mais irmandade pelos homens e entenda que as contradições existem porque somos diferentes uns dos outros, porém isso não significa que nos afastemos só por não ser todos iguais.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Que este ano eu tenha mais amor por tudo, que o único sentimento capaz de transformar o mundo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Que este ano seja aquilo que ele simplesmente promete: um novo ano.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Paz e amor para todo mundo neste ano que está chegando. São meus votos e de toda minha família para todos os que tem tornado este blogue um espaço gostoso de se visitar.<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-62307242356317501772010-12-25T16:13:00.000-08:002010-12-25T16:16:51.746-08:00O cheiro da felicidade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQcprpat2Thv2YLM01K8mIjuuIZfvKiHO6139Zo8XGQsDp1BBqC-g"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 225px; height: 225px;" src="http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQcprpat2Thv2YLM01K8mIjuuIZfvKiHO6139Zo8XGQsDp1BBqC-g" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Quando eu tinha treze anos, lembro que a rede Bandeirantes exibia aos domingos uma sessão de filmes mais artísticos – eles eram legendados e tudo, contrastando com a exibição tradicionalmente dublada. Lembro também que não gostava muito deles, mas mesmo assim os assistia com bastante atenção, pois queria ser diferente dos meus colegas de infância, que naquela idade entretiam-se mais com as comédias picantes típicas da década de oitenta, como <i style="mso-bidi-font-style:normal">Porkys</i> e o <i style="mso-bidi-font-style:normal">O último americano virgem</i>, ou então as pornochanchadas brasileiras que, aliás, também eram exibidas naquele mesmo canal, nas segundas feiras clandestinas – obviamente clandestinas pela pouca idade que todos nós tínhamos. De todos os filmes que assisti naquelas sessões de domingo, sobra muito pouco para entrelaçar todas as tramas, mas lembro muito bem de um deles, um que era francês e se chamava <i style="mso-bidi-font-style: normal">Barjo</i>.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Não que a película francesa tenha marcado a minha vida, mas uma atitude da personagem principal, à época, chamou-me bastante a atenção – e lembrei-me disso agorinha mesmo. Ele, e a história dizia que desde a infância, tinha uma coleção de balinhas de leite acondicionadas dentro de um saco plástico. Em momentos de grande tensão, tirava-as de seu casaco e as cheirava fortemente. As minhas críticas cinematográficas não eram tão exigentes quando eu tinha treze anos, mas imaginei, e nisso senti uma ligação fortíssima entre mim e a personagem, que aquilo deveria possuir o cheiro da felicidade, capaz de espantar tudo o que é infelicidade. Não que eu achasse que a felicidade possuísse cheiro de balas de leite, para mim, ela cheirava mesmo era a plástico novo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Pode parecer meio bobo, no entanto todos nós um dia depositamos as nossas expectativas no cheiro que alguma coisa nova exalava. Quem nunca pensou como o ano letivo parecia promissor ao cheirar o material escolar novinho? As paredes cheirando a tinta fresca da tão sonhada casa nova, quem não a cheirou, hein? Ou então o cheiro do bebezinho que se acabou de ter, quem nunca depositou mil esperanças no cheiro do filho recém nascido?<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>A felicidade é imaterial. Claro, ela é um estado de espírito estampado bem na cara de quem está feliz. Porém não se deve negar que a fé, o desejo de realização, a própria humanidade são capazes de tornar o invisível em palpável. Meus sonhos de criança e minhas expectativas estratosféricas (não fui à lua como eu esperava, mas a pinto todos os dias de minha vida com a tinta forte daquilo que escrevo) continuam vivos, porque no fundo ainda sou capaz de materializar os sentimentos mais importantes nas coisas mais cotidianas, como o cheiro do plástico novo. E para você, qual é o cheiro da felicidade?<o:p></o:p></span></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7975444002744950947.post-28551342469047371962010-12-05T08:13:00.000-08:002010-12-05T09:02:53.389-08:00Juventude transviada<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_eNxo9Mwp3mU/RqkJie-R7bI/AAAAAAAAAN4/QGsPKqo8eRY/s320/suicide_girl_40x30.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_eNxo9Mwp3mU/RqkJie-R7bI/AAAAAAAAAN4/QGsPKqo8eRY/s320/suicide_girl_40x30.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 14px;"></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black">Não gosto de ir a <i style="mso-bidi-font-style:normal">shopping center’s</i> por dois motivos muito fortes. Primeiro, eles vivem cheios. Segundo, eles vivem cheios de adolescentes. Nada tenho contra os adolescentes, até mesmo porque já fui um também e devo ter suscitado nos adultos o mesmo sentimento que eles suscitam hoje em mim. Além do que, minha missão profissional (e por que não, pessoal) é educá-los, já que sou professor do ensino médio. Mas é estranho como eles se comportam nos lugares em que não são obrigados a usar farda; a ficar expostos ao monitoramento. Isolados em certos meios são mais toleráveis, mais “controláveis” (embora controle não seja uma palavra adequada quando se fala em relacionamento, seja ele qual for). Soltos são imprevisíveis; misturados às suas diversas tribos, cheias de gírias, roupas e penteados próprios.<o:p></o:p></span></span></p><span class="Apple-style-span"> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Outro dia, com minha esposa, tive que comprar um presente no <i style="mso-bidi-font-style:normal">shopping</i>. Eles, os adolescentes, estavam lá, aos bandos. Como minha esposa não se decidia sobre o que comprar, resolvi dar uma passada na livraria mais próxima (minha ilha de liberdade naquela Meca de consumismo). Tinha alguns títulos interessantes, muito embora houvesse bastantes romances da Stephanie Meyer (também nada contra quem curte o tipo de literatura que ela produz). A certa altura, entretido em minhas cogitações e já disposto a folhear algumas obras no formato de bolso, notei dois casais de adolescentes (pelo menos acho que eles formavam casais) se aproximando à minha direita. Lépidos e alegres, falavam das obras expostas na vitrine. Um dos casais era bem normal, apesar do excesso de <i style="mso-bidi-font-style:normal">glitter</i> e chapinha em ambos. O outro casal era, digamos, mais exótico. Deviam ter uns dezesseis anos. Ela, com muita maquiagem pesada para pouca idade que tinha. Ele, excessivamente musculoso, para a pouca necessidade que devia possuir para cultivar tantos músculos. A menina muito maquiada de repente reclamou com o rapaz do outro casal sobre os motivos que o fizeram levá-la até ali, uma vez que ele tinha conhecimento de que ela em toda vida não pegara em livro algum. Pensei comigo mesmo: você não deve ter ideia do que está perdendo. O rapaz cheio de músculos, e sabe-se lá porque as forças do cosmos não o mantiveram em silêncio, contou uma anedota suja que fazia trocadilho com um nome de livro. Depois que perderam o interesse na vitrine, resolveram ir embora.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>Às vezes a juventude me espanta: seja por seus avanços ou retrocessos. São espantos distintos, é verdade, e dou muito mais valor ao primeiro que ao segundo tipo de espanto. Existe uma geração muito mais consciente que a minha – e dela realmente só se espera grandes realizações. Em contrapartida, um número crescente de jovens tende a levantar bandeiras como a da idiotice, do pouco caso e da falta de modos. É triste, mas é um duro fato da vida, que existem jovens que são incapazes de fazer uma reflexão de seus atos. O rapaz cheio de músculos, por exemplo, se exercita regularmente para ficar bem apertado em sua camisa justa e não para ter uma boa saúde – ele só faz isso, porque todos fazem. Que tipo de valores nós temos passado à juventude, seja como pais, educadores, como seres humanos? Será que resultado esperado é esse que se vê todos os dias: uma juventude que considera o errado certo, que despreza os livros porque eles fornecem cultura, que sai à noite para agredir, para mostrar que é mais forte? É preciso ser mais atento com quem está há pouco tempo no mundo. É preciso que se assumam rédeas e responsabilidades sobre aqueles que foram gestados por nossas escolhas. O adolescente que dá problema na escola, exibe apenas um fragmento de uma tragédia social muito maior, que passa pelo descaso com que pais tem tratado seus filhos, repassando suas responsabilidades a quem só devia complementá-las. O pai que entrega a educação de seu filho unicamente ao Estado ou aos grandes sistemas educacionais privados, além de irresponsável, é criminoso e desumano, pois se abstêm justamente daquilo que nos torna mais humanos: a capacidade de amar e dar o exemplo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.0pt; line-height:115%;font-family:"Verdana","sans-serif";color:black"><span style="mso-tab-count:1"> </span>A juventude é ousada. Está ai para romper barreiras mesmo. Surpreender o mundo com sua sagacidade. Mas ela é incapaz de desenvolver suas capacidades se não tiver ajuda, se não tiver alguém que imponha barreiras e ensine a essência da contestação, se não tiver papai e mamãe. Vendo o que acontece no mundo, não sei se posso dizer que os jovens de hoje são desrespeitosos, porque via de regra eles, em sua grande maioria, são filhos de pessoas inconseqüentes e o que o filhos fazem é apenas seguir o exemplo (ou a falta dele) de casa. Educar tem que ser muito mais do que uma tarefa que envolva gastos, mas algo que envolva responsabilidade, generosidade, respeito, comprometimento e, sobretudo, amor – e como falta amor nesse mundo!<o:p></o:p></span></p></span><p></p>Analista de sua própria vidahttp://www.blogger.com/profile/09270207969282631456noreply@blogger.com6