Uma flor é apenas uma flor quando
tu simplesmente a nomeias por flor. Quando dizes sol, acaso não defines o astro
gigante que dá vida a todo vivente? Quando falas pedra, sentes o peso da
palavra e onde reside todo o seu discurso. Quando falas em alma, amor e Deus,
refere-te ao reino da pura palavra, onde tudo é perfeito e atingível. Quando abres
a boca e dizes a palavra palavra, descreves com perfeição atividade e produto;
colocas nas pontas opostas da mesma linha o terno e o eterno: uma ponte que
toca dois mundos, o do dito e o do não dito. Erguida a ponte, resta que se diga
que quando verdadeiramente dizes alguma coisa – qualquer coisa –, dás a essas
coisas nomes – todos os nomes –, aquilo sem o qual nada neste mundo pode ser
amado ou odiado.
Para José Saramago e
João Cabral de Melo Neto