Sempre fui fascinado pela figura do escritor, até mesmo porque sempre desejei ser um. Em termos de literatura, a minha cidade, diferentemente do que foi no passado, é muito periférica. Os nossos escritores tendem a adotar certas formulas e permanecer para sempre nelas – é uma pena, pois grandes valores de São Luís se perdem ao utilizar velhos truques. Têm também os escritores mais antigos, esses sim, com estilo próprio e talento inquestionável. Posso citar Augusto Cassas, Ferreira Gullar, Nauro Machado, como exemplo dessa estética insuperável.
Conheci os três pelos caminhos da vida, mas sempre senti falta de outros grandes homens de letras, aqueles que estavam para além de meu estado de nascimento. Graças a Deus as autoridades locais resolveram realizar uma feira anual do livro, grande chance de conhecer escritores de muitos outros lugares. Na primeira feira do livro de São Luís, tive a oportunidade de conversar com Moacir Sclyar e acabei corroborando uma antiga impressão que tinha dele: a de um grande homem, cuja atenção por quem está no começo é exemplar. Conversamos, trocamos e-mails e posso dizer que lhe enchi muito a paciência pedindo opiniões acerca daquilo que eu escrevia. Em nenhum momento, e olha que esses momentos foram muitos mesmos, ele se mostrou irritado com minha insistência e leu e comentou tudo o que enviei. Quem é capaz de fazer isso para um desconhecido hoje em dia?
Foi vendo a internet no domingo que soube da morte de Sclyar e fiquei arrasado. Sclyar era um grande homem, não apenas pelo que escrevia, mas pelo tipo de pessoa que foi. Isso não deve ser novidade para ninguém e provavelmente mensagens semelhantes devem correr por toda parte no mundo virtual, mas para mim é muito significativo poder falar de alguém que fez o favor de me ouvir. Com certeza vou reler muitos e-mails hoje e lembrar de conversas antigas, e pensar em um grande amigo e influência que tive. Os últimos dois anos não tem sido fáceis, primeiro Saramago, depois o Sclyar. O mundo anda perdendo cada vez mais um pouquinho de sua cor.
Que bom. Sua postagem me deixou um pouquinho menos triste.
ResponderExcluirEu divido esta impressão com você, Thomaz. Tive a grata oportunidade de conhece-lo aqui na bienal de BH ano passado. Troquei meu livro com um dele (A Mulher Que Escreveu A Bíblia) e depois trocamos ideias e ele me deu poucas mas grandes palavras de incentivo. Foi o primeiro grande e consagrado escritor com quem pude ter contato. Fiz uma resenha do livro dele depois e a publiquei em meu blog. O curioso é que eu fiquei com medo, inseguro de publicar sem que ele visse antes. Enviei a ele, leu, elogiou muito e pediu que eu publicasse que o deixaria muito contente. Portanto, fiquei duplamente sentido com a perda. Um grande escritor, um grande homem. Abração. Paz e bem.
ResponderExcluirThomaz, fiquei muito triste com a morte do Sclyar, gostava demais do texto dele.
ResponderExcluirbjs
Jussara
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ResponderExcluirÉ verdade, Thomaz, Scliar era tudo isso e mais um tanto! Morava no meu bairro. Nunca se negava a participar de palestras, conversas para incentivar os novos escritores. Como médico da saúde foi admirável no RS. Homem de hábitos simples, sem arrogância e com grande criatividade, Perdemos um de nossos melhores escritores. Sentimos saudades do nosso imortal. E como!
ResponderExcluirbeijo pra você
Tais Luso