Por entre as grades de proteção da ponte do São Francisco dá para ver o mar – mas que quase ninguém vê quando toda vista vira rotina. Às vezes dizem que o mar não está para peixe, mas por aqui sempre está. Toda hora tem algum pescador de linha, tarrafa ou barco; aqui e acolá uma ave marinha qualquer mariscando na baba do oceano.
Três homens lançam a tarrafa à sorte, tendo ao redor de si um mar agitado, ainda que este lhes bata na altura da cintura. A experiência do mar é suficiente para que tenham respeito por ele e não medo. O utensílio com o qual pescam e que é conhecido por tarrafa tem um aspecto tosco, sem mencionar a impressão de inutilidade que passa. Contudo muito se engana quem à primeira vista de algo relega-o quase que imediatamente aos vasto espaço do imprestável, os pescadores, que não diferenciam essência de aparência, a utilizam com precisão, enquanto a filosofia não se decide.
O mar não é mais visto como antes. Respeito, prudência e reverência são atributos que carrega apenas por ser o que é em si mesmo. Os pescadores, cujas peles brilham ao sol do impiedoso começo de tarde, mais do que tirar das águas aquilo que é capaz de lhes dar sustento e a própria identidade (uma força que define o que somos pelo que fazemos), rezam no silêncio a inconsciente oração do homem que tudo sabe e nada sabe; esquece e não esquece; a oração de quem se espanta com o mundo que tudo cerca de alegrias e tristezas. Os três pontinhos no mar são apenas homens que pescam peixes. O mar não diferencia homens de peixe.
Quase uma parábola, Thomaz. Assim é nosso estar no universo também. Espetacular! Meu abraço, paz e bem.
ResponderExcluirFantástico, eu gosto muito de textos que transformam o cotidiano em algo surpreendente, que demonstra que algo tão distante na verdade está mas próximo do que imaginamos.
ResponderExcluirO mar sempre será para mim sinônimo de mistério, de medo, de algo fantástico. Isso porque nunca serei mais do que um pontinho em sua imensidão! Tenho medo do que não domino.
ResponderExcluirbjs
Tais Luso