O sol perde-se na linha do
horizonte. Mais adiante, no mar, os navios flutuam preguiçosos na arrebentação.
Um homem curva-se cansado, a caminhada lhe parece mais distante. Em seu cansaço
pergunta a si mesmo por que caminhou tanto. Porque eu podia caminhar tanto,
porque eu posso caminhar tanto, diz como verdade intransigente, mas o curvar
doloroso da coluna está ali para desmenti-lo. A vida passa tão rápido como esta
caminhada. A frase dita assim é força, força necessária para movê-lo para longe
daqueles paralelepípedos desafiadores. Pergunta o que fez de si mesmo. Ora,
responde, fiz muita coisa, fiz o que pude fazer de mim: nasci, trabalhei, tive
filhos, enviuvei, estudei, amei e até cri. Pensa na falta de originalidade no
final de sua frase, de como ficaria melhor no poema do Pessoa e não em sua
caminhada. É estranho pensar em tudo aquilo sem saber por que se está pensando
em tudo aquilo. Não poderia pensar na própria vida? Era pecado? Não tinha
valido a pena? Tinha. Tinha sim, mas, afinal, não estava dando apenas uma
caminhada descomprometida, só uma caminhada descomprometida? Levanta a cabeça.
O calçadão com seus paralelepípedos estendem-se infinitos seguindo a orla. A
lua se põe em seu lugar. Os navios acendem suas luzes, desenhando falsas
estrelas no oceano. As pessoas caminham, terminando seus exercícios, cumprindo
o dever de ter um corpo saudável. Tudo se move. Tudo está em movimento. Menos o
homem que insiste em permanecer curvado, alheio à vida pulsante ao seu redor.
De repente enrijece o corpo. O caminho à sua frente é o mesmo, mas não é mais o
mesmo, é outro. Respira profundamente, sente o ar arejar-lhe a cabeça. Os
músculos, os velhos músculos que estão lá desde o começo dos tempos, voltarem a
funcionar. Sente algo despertar dentro de si, algo que provoca revoluções, as
mesmas que movem o universo todo. Torna a caminhar. Sorri. Acena para os
desconhecidos que cruzam seu caminho. Sente lágrimas banharem seu rosto. Não é
apenas um caminho, pensa, e todas as nossas batalhas são disputadas dentro de
nós mesmos.
A
vida valeu a pena. Valeu mesmo.
São Luís, 12 de
fevereiro de 2014.
Tento encontrar uma palavra para descrever este texto, mas não consigo. No máximo inclino-me à postar que ela, esta palavra que procuro, está entre entre outras, apesar de não ser nenhuma destas: náusea, melancolia e angustia.
ResponderExcluirbeijos!
As palavras incomodam querida, ainda mais se é algo dentro de você e que quer ir para fora. Escrever é bom, mas o desafio da folha em branco e do pensamento queimando de expectativa por vezes nos deixa sem saber o que escrever.
ExcluirBeijos!
Você deixa escapar nas entrelinhas todos os conflitos de nossa trajetória. Lindo seus textos, você tem muita sensibilidade! Vale a pena ler você!
ResponderExcluirGrande abraço, Thomaz.