sábado, 13 de junho de 2009

Sobre o que vale a pena


Para Hillana

Dia desses, conversando com minha filha, nos indagamos sobre o desejo do homem de passar para a posteridade. A nossa pergunta incidia na vontade de saber se tal desejo era lícito ou se era tão somente fruto de nossa vaidade humana. Pelo que eu saiba, existem várias maneiras de se entrar para a História, de se tornar imortal. Uns fazem isso tendo filhos, pois são eles que passam o legado dos pais adiante. Alguns são heróis, nossos símbolos de bravura das horas em que mais precisamos. Outros fazem arte e permanecem eternos por conseguirem afetar os nossos sentidos. E ainda há aqueles que querem permanecer no imaginário de qualquer jeito, seja por meio do ridículo, do apelativo, do medo ou da dor. Mesmo sendo diversos, fazemos parte da universidade e eu e minha filha não somos diferentes, também queremos fazer parte da História do mundo e o caminho que escolhemos foi a arte. Eu quero ser escritor, ela quer ser artista plástica. Tendo em vista as nossas aspirações, acabamos crendo que temos uma missão a cumprir, que somos muito importantes, até mesmo intocáveis. E é assim com todo o resto da humanidade, a mesma sensação de que se é essencial para o mundo.

E foi pensando nessa pretensa importância, na grande contribuição que o mundo espera de nós, é que pensei nas vítimas da tragédia do voo 447 da Air France, me dando conta de o quanto somos frágeis em todos os sentidos. A tragédia ocorrida sobre o Oceano Atlântico, além de transformar pessoas em estatística, amputou sonhos e separou vidas. O 447 era uma espécie de microcosmo, uma fatia do que somos todos nós. Dentro daquele avião, tudo podia estar acontecendo, talvez amantes estivessem viajando juntos ou quem sabe estivessem para se encontrar, dispostos a enfrentar um oceano para fazê-lo. Filhos ou pais podiam estar se revendo ou se despedindo. Quem sabe tivesse gente que estava viajando para esquecer os problemas ou quem sabe estava para recomeçar a vida no Velho Continente. Quem sabe havia gente que morria medo de viajar de avião ou que nunca imaginou sofrer um acidente de avião.

258 pessoas. 258 vidas. Para o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard 258 existências que se foram. Essas pessoas deixam muita coisa para trás, são vidas que não voltam, instantes que só acontecem uma vez. As pessoas que estavam dentro daquele avião não em nada eram diferente de nós, qualquer um podia estar naquele avião. No fim das contas, o que é entrar para posteridade? Que importância isto tem para nós?

A importância de quem somos não é medida por quem somos, mas pelo que fazemos, pelo o que os outros carregam de nós. A morte, do jeito que ela vier, é um evento violento que simplesmente nos arranca deste plano de existência, jogando-nos no desconhecido. É preciso que estejamos em dias com tudo, que estejamos preparados, não para morrer, mas para deixar algo que valha para a vida toda. A vida, até onde se saiba, é apenas uma e é necessário que ela seja explorada no que realmente ela vale: com nossos filhos, com nossos pais, com nossos amigos. Com o que importa. O poeta Ivo Lêdo sintetizou bem sobre o que vale a vida de um pai: “Ser pai é ensinar ao filho curioso o nome de tudo: bicho e pé de pau. Que o pai, quando morre, deixa para o filho o seu montepio – tudo o que juntou de manhã à noite no batente, dando duro no trabalho. Deixa-lhe palavras”. No fim das contas é o que resta. Palavras.

4 comentários:

  1. Thomaz,

    Obrigada pela visita. Pode usar meu link sim. Sem problema. E vou acompanhar seus textos.

    Volto depois para ler sem pressa.

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  2. Bela texto...
    Palavras.. é tudo o que temos... porque até mesmo se ficarmos para a história, ela será contata através das palavras...

    Bjos e bom fim de semana!!!

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  3. Thomaz,

    É isso, deixemos palavras e seremos imortais. Sabe Deus até quando, mas seremos imortais.

    Obrigado pela visita, desculpe não haver respondido antes. Creio que conheces a ladainha: tempo, tempo, tempo que nunca temos. Enfim, vou criar um link agora para o seu blog. Abraços!

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  4. Gostei do texto. Contudo, acho que pecaste na forma. Alguns parágrafos parecem ansiarem por um bom leitor, milimetricamente bem construídos. Outros parecem não se importar muito com o que estão fazendo ali. Paradinho estão, paradinhos continuaram, mesmo depois que vários olhares passarem.
    Deixo esta crítica porque sei da sua competência.
    BJs!!

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