domingo, 16 de agosto de 2009

A angustia da página em branco


Quem escreve, em geral tem um único tipo de preocupação: escrever. Nem precisa ser de maneira profissional, basta que o texto seja satisfatório a quem se destina ou até mesmo para o próprio autor (eu, por exemplo, tenho pilhas e pilhas de texto que adoro, contudo considero-os impublicáveis). Sendo assim, os fins de semana me deixam impaciente, já que é o período em que tenho que escrever algo novo, e por isso mesmo sinto que as palavras meio que fogem de mim.

Alguém certa vez disse (ou, mais adequadamente, escreveu) que a luta com as palavras é a luta mais vã. Afirmativa verdadeira em muitos aspectos. Diante das palavras o escritor se torna um guerreiro ou até mesmo um xamã que exorciza a falta de criatividade, atraindo para si os bons espíritos, as boas idéias, o bom texto. É sério, escrever até parece magia quando nos vemos hipnotizados por um bom livro. Neste instante mesmo contemplo alguns magos e seus feitiços, aprisionados em minha estante: Machado de Assis, Rubem Fonseca, Vargas Llosa, Gustave Flaubert, Honoré de Balzac e por aí vai.

(ah, bom Deus, fazei-me instrumento de vossa vontade, transformando vossas imagens oníricas em um texto capaz de encantar as multidões!) Às vezes, fervoroso, clamo ajudas aos céus para superar os desafios de uma página em branco; outras, ateu, amaldiçôo-me na minha própria falta de fé. Tem gente que quando escreve é toda alma e tem gente que é toda cabeça. Uns sabem, outros inventam. Alguém consegue fazer o dever de casa ou então joga verdadeiros Lusíadas no lixo. Com inspiração, sem inspiração. Com texto, sem texto, os resultados de minha concentração ainda me espantam. Escrever é luta solitária que não se pode vencer sozinho. Envolve a solidão e o crepúsculo, mas também envolve as vozes do passado – os autores que um dia lemos – e a aurora. Não importa o resultado que se alcance, meu texto vai ser no máximo bom ou ruim, no entanto, o esforço que desperdiço ao fazê-lo me revela, no final, quem sou e quem somos. E já que se falou em vozes do passado, neste instante mesmo escuto um Drummond de anos atrás: “Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate”.

7 comentários:

  1. Thomaz, tem um filosofo dinamarquês que afirma que a vida ao contrário dos que muitos pensam, não alegria, felicidade, mas a angustia. O seu título e o seu texto são uma prova disto. " A angustia da página em branco". A angustia é paradoxal, tem a caracteística de fazer expulsar o seu contrário. Ler o seu texto é sentir um pedacinho do céu.
    Bjs!!

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  2. Amo escrever, mas às vezes me dá uma raaiva. Tem dias que não adianta que não tem nada que me inspire, mas tem dias em que as ideias se amontoam e parece não ter espaço.

    Beeijo!

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  3. São muitas verdades. Eu acredito em inspiração, acho que ela não é apenas um mito e também acredito que muitos trabalham com mais afinco as palavras. No entanto, é uma luta mesmo. Também me vejo como você. Muitas vezes luto com as palavras, escrevo e só não jogo no lixo porque gosto de guardar tudo. E não há tristeza maior (para quem escreve) do que uma página em branco.

    Dia desses você falou em Rubem Fonseca. Estou lendo e gostando muito.

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  4. Que engraçado...

    Estes dias mesmo eu estava pensando em escrever sobre escrever..r.s. ainda escrevo.. quando estiver tão inspirada como você...

    É engraçado isto.. eu vou trabalhar com vontade de escrever algo.. ultimamente tenho sentido muita falta de escrever sobre a vida e não tanto sobre a minha vida, como tenho feito por conta dos acontecimentos recentes que me deixaram meio abalada...

    Mas assim que der, volto ao normal...

    .. ou não!

    Bjos meu querido..
    Boa semana!!!

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  5. "(...) como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida."

    Caio F.

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  6. Te add no meu blog, assim acompanharei suas atualizações frequentemente!

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  7. É uma verdade: as palavras nos fogem... As minhas fogem quando mais preciso, nos momentos de angústia, quando quero escrever algo, chorar minhas "lágrimas preto no branco" e não me vêem.
    O fato é: mesmo que seja sobre o tubinho de hidratante que está aqui do meu lado, na minha mesinha, escrever é sempre muito bom..

    Excelente texto...

    beijocas

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