domingo, 2 de agosto de 2009

A mulher que enxergava a música


Vi num programa dominical um reportagem que me deixou encantado. Era sobre uma mulher que via e sentia o gosto da música. A explicação científica para o fenômeno era complicada e eu, pobre leigo que sou, sou incapaz de reproduzi-la. Mas o importante é o fato: ela enxerga e sente – literalmente – a música. Isso não é maravilhoso?

Se pudéssemos voltar no tempo, digamos até a Idade Média, por exemplo, a mulher dificilmente escaparia da fogueira, se revelasse ser a dona do prodígio. Em outra época tratar-se-ia de um milagre. Nos dias de hoje, diante do frio aval da ciência, é o fruto de ligações neuroquímicas, cuja capacidade é restrita a um limitado número de pessoas, portanto é um acontecimento inserido em uma cadeia de previsibilidade – ainda que seja raro.

Nunca fui um entusiasta a respeito de determinadas certezas do mundo, o progresso é uma delas. As minhas leituras da época da faculdade apenas me fizeram crer que neste terceiro milênio se encontraria o triunfo da razão. E isso não é utópico frente ao que a ciência pode oferecer. O problema é o paradoxo. Produz-se comida suficiente para todos, só que ainda há fome. Domina-se a exploração de petróleo em águas profundas e em terra firme mesmo, há gente que não tem casa. A meta é conquistar o universo, enquanto no planeta Terra surgem 50 espécies não catalogadas todos os dias. A previsão do tempo diz que fará sol o dia todo e mesmo assim ainda chove. O conhecimento humano pode dar tudo, ao mesmo tempo em que mostra faltar muita coisa.

Diante da imparcialidade dos números e da força das leis científicas, o antídoto é, vez em quando, acreditar em milagres. E o que é um milagre? Um milagre é um fenômeno que ultrapassa o desconhecido, que insolentemente desafia as fronteiras do real. Sempre acreditei que o êxito de pessoas como Jesus Cristo e Sócrates, foi desafiar as regras do jogo, não se omitir nem silenciar, mesmo sob a ameaça de imposição da maior barreira que se pode impor, essas pessoas não temeram sequer a morte e independentemente do que se acredite, essas pessoas forma vencedoras – tanto que é delas que se está falando. Não é ser otimista em excesso, mas com tudo que se vê hoje em dia, saber que existem pessoas capazes de perceber o mundo de outra maneira, enxergando e sentindo o gosto da música, por exemplo, não deixa de ser um milagre.

5 comentários:

  1. Eita.. como sempre... belas e profundas palavras..

    Vc é formado em quê???

    Adorei o que disse sobre milagres e estas duas adoráveis personagens... Quem dera termos um pouco destas pessoas hoje em dia... ops, talves isto seria um milagre...

    Bjos e boa semana...

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  2. Bem realista a crônica. Realmente apesar de muita Razão, ainda é o ego que predomina no conhecimento humano, logo na vida de todos nós. A filosofia rompe com o mito tendo como pedra de toque a Razão. A ciência não só rompe mais chuta a filosofia no século XVII, também tendo como trofeu a Razão. Hoje apesar de vivermos no auge da Razão, alguns e você Thomaz está incluido nesta acanhada estatística,observa que a razão construida ao longo de todo esse tempo não passa de egos disfarçados.Infelizmente ou felizmente, ainda não saímos do Mito.
    Bjs!!

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  3. Olá, vim visitar você e me cadastrar como sua amiga virtual. Vou colocar seu blog entre os meus preferidos. Gostei muito do post. parabéns!

    Beijo
    Carpe Diem!!

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  4. Obrigada por visitar meu blog e volte sempre :)
    Também vi essa reportagem do Fantástico e achei muito interessante, principalmente as suspeitas de que os bebês também sejam sinestésicos. Realmente seria algo impressionante!

    Beeijos!

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  5. Queria ter passado na fila da sinestesia.
    Obrigada pelas palavras deixadas por lá e claro que quero fazer uma parceria de links.

    Um beijo!

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