domingo, 20 de setembro de 2009

De como aprendi a gostar de ler


Uma nação se constrói com homens e livros. Esta, sem dúvidas, é uma das máximas de que mais gosto. Por ignorância ou desleixo mesmo, nunca me preocupei em investigar a autoria da frase. Mas como uma obra ultrapassa o seu autor e levando em consideração a verdade que a frase encerra em si mesma, isso é o de menos.

Não sou de uma família muito dada a leituras, pelo menos as que eu aprecio. Por um lado minha família é composta por pessoas humildes e até certo ponto pouco letradas. Já a outra parte tem quase que em totalidade uma forte vocação jurídica – o que me faz pensar se “advogado” não é outro sobrenome da família. Portanto, para meus familiares, sempre veio primeiro o trabalho e depois – muito, muito depois mesmo – a poesia.

De cara não fui a ovelha negra, demorou um pouco. Minhas primeiras experiências com a leitura foram traumáticas e desestimulantes – era apenas um monte de letrinhas que dançavam a exmo, sem conexão alguma com minha vida. A escola não ajudou muito, ela apenas empurrava uns paradidáticos e sem nos informar como a adição da leitura como hábito ajudaria em nossa formação como pessoas, transformou o que deveria ser prazer em tarefa chata e obrigatória (como foi a escola como um todo). É engraçado escrever sobre isto e relembrar como a leitura entrou em minha vida, foi logo após repetir o ano na oitava série. É que fiquei com medo de tomar uma sova de meu pai e como única maneira de escapar a ela, resolvi refugiar-me em meu quarto (como se papai não pudesse abrir a porta!). Sem nada o que fazer, acabei – e vejam como o mundo dá voltas – tendo em minhas mãos um dos paradidáticos que tanto desprezava: “Aventura na Ilha”, se não me engano era seu nome e passei o dia todo a lê-lo. A sova não veio, mas mesmo que tivesse vindo não faria diferença, pois aquela leitura, influenciada pelo temor, despertou em minha alma algo que ela não conhecia: que ela podia se comunicar com outras almas, sentir o que elas sentiam em um momento inspiracional qualquer de suas existências, tudo isso tendo como canal os livros. Aí os livros já não eram mais os mesmos nem eu a mesma pessoa.

Uma nação se constrói com homens e livros, já disse isto, às vezes só com os homens, infelizmente.

5 comentários:

  1. Pois é Thomaz... Engraçado ler isto...

    Tb sou a filha mais nova de uma família que não está nem ai para os estudos.. quer dizer, não é bem assim... até vejo em meus pais pessoas humildes que até gostariam de ter estudado quando tinham idade, porém a necessidade de trabalho não lhes permitiu tal feito...

    Sinto por eles.. meu pai, por exemplo, é super esforçado, gosta de saber.. conhecer as coisas... ele teria sido com efeito um exelente contador.. mas não foi bem assim que ele fez... hoje ele trabalha com almoxarifado.. mas quando quer fazer as contas.. é um homeme brilhante...

    Minha mãe não tem uma bela visão, gosta de ler mesmo com apenas 20% da visão que a cada dia se vai mais...

    Agora, o que me revolta são minhas duas irmãs mais velhas.. a Sara fez faculdade - a força - numa má vontade que dá.. diz claramente que não gosta de estudar.. porém, quer dar aula.. fico pensando se isto dará certo...

    A Solange, minha irmã do meio, gostaria de fazer enfermagem.. mas acabou escolhendo a maternidade aos 19 anos de idade, e assim ganhou 3 diplomas,o mais novo nasceu há pouco menos de um mês ....

    Eu tento levar meu sobrinho de 9 anos a ter vontade de estudar.. mas fico tão triste com a má vontade.. herança dos pais..

    E eu, a nerd da família.. apenas me esforço pelo melhor.. e por eles.. no final...

    Triste...

    Abs.

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  2. Meu caso é muito parecido com o seu. Minha família tbm não estimulou a leitura, a escola muito menos, foi a vida que me mostrou esse caminho que me apaixonei instantaneamente. Isso mostra uma verdadeira vocação, pois ninguém apresentou, impôs ou obrigou, por determinado caminho, nós desenvolvemos esse hábito!

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  3. ola... gostei de ler as coisas que vc escreve...
    posso te acompanhar!
    abraços
    uma otima semana?

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  4. Thomaz até pouco tempo atrás, a mais ou menos uns quatro anos, talvez até por influência do idealismo platônico, ainda cria que o reconhecimento era coisa fútil, logo sem sentido. Hoje existencialista convicta que sou, acredito que ele não é só uma condição suficiente para os bons, mas acima de tudo uma condição necessária. Você é um deles, e com certeza, o reconhecimento por tal proeza é só uma questão de tempo, assim como foi seu encontro com os livros.
    Beijo!

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  5. rsrr...
    ja tive um filho, ja plantei uma(s) árvore... agora me falta um livro....
    abraçosss

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