domingo, 13 de dezembro de 2009

Quase crônica

Ainda me fascino ao ver o velho escritor trabalhando. Hoje acordou querendo escrever poesia. É uma pena, pois está lhe faltando um coração para ser um poeta. Como não pode fazer verso, tenta ir de prosa mesmo. Começa. As mãos permanecem quietas. Sabe que escrever requer vontade, esta não lhe falta, só que é preciso mais que isso. Falta um elemento que a transforme, que tome emprestado aquilo que está em seu peito cansado e o traduza em palavra. Inspiração.

O pensamento solto. A ponta da caneta mastigada. A página em branco. A fome da palavra. Vai escrevendo e o que vai saindo no papel não chega a ser a crônica, mas sim a vontade dela de se insinuar no mundo, de tornar solene o fruto do matutar de uma cabeça qualquer. Somente palavra escrita.

Cai a noite. Nada. Olha pela janela: a rua onde tudo isto se dá ainda é a mesma, enquanto o mundo todo que está em sua cabeça tenta se transformar em sua imagem e semelhança. Mas ainda não consegue escrever. Passa o tempo. Passam as pessoas. Passa um cachorro que persegue um pobre gato. As estrelas brincam de brilhar no céu e algumas crianças – indiferentes às revoluções do Universo e de sua cabeça – pulam amarelinha. Larga a caneta. Diante de tudo isso, pelo menos por hoje, o mundo não vai precisar de sua contribuição.

9 comentários:

  1. Que fofo o texto....

    Ontem eu estava assim... fiquei quase desesperada....

    Olhei para meu blog... "precisava escrever algo.. mas o que??"... Olhei para as teclas do teclado... e nada me vinha à mente...

    =\

    Dai.. eu pensei em mim.. no meu dia de todo o dia.. e saiu...r.sr.s.

    Minha contribuição ao mundo.. não sei se foi boa ou ruim.. mas até que fiquei bem com o final...

    Abs!!!

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  2. Olá Thomaz,
    pensamentos soltos, soltam palavras que o vento leva...venho com o vento e tenho gosto quando encontro suas palavras aqui "pintadas"...texto bonito amigo, consegui viajar no seu dia, a minha maneira...abraço

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  3. eu gosto muito de temas metalinguisticos, acho interessantissimas as diferentes visoes da arte de escrever.

    lindo texto

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  4. Poesia é uma ilusão besta e quando a prosa rareia o negócio é beber. E ler os velhos mestres, que estão sempre lá, a troçar da nossa cara.

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  5. Thomaz, que texto maravilhoso. Tema lindo. Realmente gostei demais, e dessa noite foi o melhor que li. Abordou com uma sensibilidade brilhante, usando as expressões corretas e as figuras adequadas. Já ouviu falar no conto "A cantiga dos ponçais" do Machado de Assis? Leia, lembra muito esse tema.
    Meus parabéns, seguirei!
    www.cadernodacapaverde.blogspot.com

    F.M.

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  6. Texto muito legal. Lembra-me o princípio lógico da não-contradição: Toda negação de uma afirmação é uma afirmação. Quando você negou a sua possibilidade de escrever, já estava escrevendo. Por isso,dou-me o luxo de mudá-lo de nome. Intitulo-o , não mais de “quase crônica”, mas de “ O poema”.hehehe...
    Beijo!

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  7. Caro, Thomaz

    Você pode até se definir como 'um nada', mas sua escrita é muito interessante, tem estilo e determinação!

    Consigo visualizar tudo dentro de mim quando te leio, parabéns por proporcionar isso!

    Abraço, cronista-poeta!
    Te sigo!

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  8. Caro, Thomaz

    Obrigado por aparecer, comentar, ler meu blog.

    E que bom que gostou e linkou ele aqui, já fiz o mesmo com o seu espaço.

    Ps: poderia ser seguidor lá? daí eu não te perco de vista, entende? Agradeço!

    seu blog é formidável, parabéns!

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  9. Muito bom! Esse sentimento de querer escrever e não poder é angustiante.
    Quando puder, dê uma olhada no meu blog.

    Parabéns pelos textos, gostei mesmo.

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