domingo, 10 de janeiro de 2010

A carta

Recebi a visita de um colega da faculdade que por puro diletantismo ainda trabalha nos correios. Ser carteiro deve ter sido a terceira ou quarta profissão que devo ter idealizado quando criança. Se não me engano devo ter quisto ser antes bombeiro, cientista ou prestidigitador, eu acho. Tinha essa lembrança em mente, quando me veio a imagem bucólica do carteiro carregando consigo lembranças e saudades impressas nas cartas. Não é bem assim, disse-me o amigo, as pessoas não mandam mais cartas umas às outras, a maioria das correspondências resume-se a cobranças de empresas especializadas e ofertas de cartão de crédito. É uma pena, concordamos.

Já me referi anteriormente sobre a minha ignorância e deslocamento neste mundo veloz de Deus. Devo mesmo é ter nascido velho numa época em que os tempos já eram outros, penso. Diante das comunicações via satélite, sms, e-mail ou sei lá o quê moderno, o hábito de mandar cartas é muito lento. Na verdade, essa ferramenta que cada vez mais entra no terreno da nostalgia, deve sua sobrevida graças à sua essência oficiosa, pois comunicações de bancos e outros órgãos, ainda, não podem ser feitas via correio eletrônico.

Não é querendo desprezar esta era que se situa em cima dos cabos de fibra óptica da vida, mas pergunto àqueles que nasceram até 85: como descrever a emoção de receber uma carta de alguém tão querido, capaz de fazer tanta falta? Ou ainda, como falar da angustia que consome quem a enviou, na intenção de por nela o que de mais nobre pode ter uma alma? Não. Não há meio de comunicação capaz de proporcionar sensação igual. A vida voa, é a mais absoluta verdade, e hoje não se vive como se viveu cinqüenta anos atrás, assim como nada será igual nos vindouros cinqüenta anos que nos aguardam. O tempo é assim mesmo, ganha e perde acessórios; cria “novas tradições” ao tornar outras sem uso, assim como anda fazendo com as cartas. Quem sabe no futuro, nas viradas que o homem dá por aí, ele não acaba criando um meio, dentro das próximas medidas de convivência, de matar tão eficazmente as saudades como fazia uma carta belamente escrita.

4 comentários:

  1. Thomaz...

    achei linda a frase: " lembranças e saudades impressas"... de fato hoje em dia quase não existe mais quem faça isto.. mas olha só.. as sensações são as mesmas...

    Explico:

    Eu, Silvia, 27 anos, há mais de 5 anos não mando "carta" a ninguém, sou da área de TI. Mas todos os dias eu espero que me chegue um SMS ou mesmo um e-mail daqueles que gosto....

    Tá vendo?? Mudamos apenas o envio, mas a importancia continua a mesma... Ao menos para mim...

    Um beijo e ótima semana!

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  2. Amigo Thomaz, sei bem o que é emoção de escrever sentimentos a caneta (fina de preferência), e receber respostas ainda que demoradas. Aprendi a ler cedo, mas quando fui alfabetizada na escola como deve ser, a primeira coisa que fiz foi escrever uma carta a uma tia distante em papel colorido e tudo. Ainda que use e abuse dos novos meios de comunicação confesso uma saudade das antigas cartas.
    Belo texto...boas lembranças me trouxe.
    abraço....

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  3. Sou uma das que viveram os tempos das cartas...
    Adorava quando chegava o carteiro, e vinha aquele monte (éramos 6, hoje somos 3).

    Boas lembranças me trouxestes, obrigada

    =)

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  4. é... nunca pensei em trabalhar nos correios não Oo

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