domingo, 17 de janeiro de 2010

Precoce reflexão de minha tardia maturidade


Forever young, i want to be forever young.

Do you really want to live forever? Forever young?

– Alphaville, Forever young

Foi ao observar a débil tentativa de um amigo de infância em escalar um muro, que mais parecia ter-se transformado em uma montanha intransponível (dada a quantidade de panículo adiposo em sua protuberante barriga), que enfim pude perceber: os anos não voltam mais. Sensibilizado com seus padecimentos, resolvi apoiá-lo na difícil empreitada. O fato é que não prestei lá grande ajuda, meus dias de atleta com ótima constituição física também ficaram no passado. Depois de nossos esforços conjuntos, que foram seguidos de três ou quatro cervejas, falamos do bairro – onde estava apenas visita, já que não mais resido nele –, dos vizinhos, de nossas mulheres e nossos empregos. Acho que por pilhéria mesmo, detivemo-nos no assunto do muro. Afinal, era difícil acreditar que há menos de quinze anos o escalávamos só por brincadeira.

A vida parece ser cheia de etapas e peculiaridades. Fala-se da dificuldade em ser adolescente, da crise da meia idade, da reflexão da velhice. Mas ouço pouco acerca do elo perdido que é a passagem da juventude para a vida adulta, que é ali, quando se esta nos anos vinte, onde responsabilidade é uma quimera e de repente aparecem os filhos e os compromissos. Hoje olho para meus amigos e é certo que não somos velhos e que ainda estamos cheios de vida, mas vejo que não somos mais os “garotões” que éramos – com tudo o que nossa confusão e imaturidade propiciavam –, no máximo elegantes “trintões”. Do dia para a noite deixamos de morar com os pais (estes passam a ser amparados por nós); surgem os filhos (e aí vemos o quanto não éramos tão inocentes assim na mesma idade); em alguns a barriga avança; noutros é o cabelo que recua. Finalmente o tempo passa e a natureza nos faz homens.

Desde que me casei tenho pensado muito nisso, de como a natureza nos vai inclinando a tomar decisões; a deixar uma marca no mundo. Ao contrário de alguns contemporâneos, não encaro a velhice negativamente. Penso que envelhecer é viver mais e quanto mais se envelhece, mais aumenta a capacidade de se aprender mais sobre si mesmo – claro, quando isso é possível. Não sei dizer se o fim de tudo é inevitável, não sei, pois outro dia passou uma reportagem sobre uma árvore de cinco mil anos – no caso dela, a morte está mais para acidente que fatalismo –, mas quero pensar sabiamente sobre esse tempo que passa, quero viver melhor, me preocupar com o que realmente interessa: com o amor e não com a paixão; com a essência em vez da aparência. O tempo não volta, quero ter lembranças e não saudades.

11 comentários:

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  2. É...

    Tempos que não voltam mais...
    Difícil vivê-los, mais difícil ainda superá-los...

    Um abraço e ótima semana!!

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  3. A maioria parece mal a mudança estética, não acredito que seja o pior, se bem que podem me acusar por ainda ser cedo para me preocupar com isso, mas nunca é cedo Thomaz quando percebemos o tempo corre a velocidade cada vez maior e aí nos deparamos assim como o seu amigo com um muro antes peculiar e agora desafiador. Penso que a debilidade física que nos assola com o passar dos anos é o mais triste que a vida nos oferece…parece mesmo ingrato que no auge de nossas capacidades não temos amadurecimento e nem tempo para “viver”, e quando o tempo é maior e vamos nos inteirando de nós próprios a estrada vai chegando ao fim. E você tem razão em usar seu tempo que com as coisas simples e imprescindíveis. Vida longa e sábia a todos nós!!!!

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  4. Acho que definitivamente a crônica é seu estilo. Eu sou esquisito, sempre valorizei cada etapa da minha vida e não deixei "negócios inacabados". Fui criança até os 16 e adolescente até os 25 rsrsrs ...
    Vivamos e fim de papo.

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  5. Meu nobre pensador e amigo: Eu costumo dizer que quem constrói uma história não escapa do saudosismo. É chegado um momneto em que a maturidade bate à nossa porta e abrimos ou não. O desafio maravilhoso e dar-lhe guarida, o que só nos faz crescer e gostar cada vez mais de viver. Tanto é que as pessoas que se envolvem em subterfúgios dos mais variados da vaidade, creio que são aquelas pessoas que não atingiram ainda um grau de maturidade. Não digo apenas de assumir as responsabilidades de cada fase da vida, feito trabalho, casamento, filhos, etc. Falo da maturidade emocional, dessa que faz com que pessoas como você se debrucem em reflexões tão boas. Entender o processo pelo qual passamos, buscar conhecimentos que nos façam aceitar a inexorabilidade do tempo e conviver em paz com cada marca que ele vai nos deixando, isso é o auge dessa maturidade que digo. Como é bom dialogar com você, meu caro! Meu abraço. Paz e bem.

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  6. ‘...quero pensar sabiamente sobre esse tempo que passa, quero viver melhor, me preocupar com o que realmente interessa: com o amor e não com a paixão; com a essência em vez da aparência. O tempo não volta, quero ter lembranças e não saudades’.

    Belo texto.

    Temos a capacidade de adaptação. Lembro, ainda menina, que olhava para os trintões e pensava ‘ um dia quero ser adulta, cuidar da minha vida, trabalhar, ter minha família...’. Tive tudo. E cresci, amadureci muito. Meus filhos ficaram adultos. Agora olho um pouco temerosa para a velhice e penso: essa eu vou ter de fazer, e vou ser feliz! E por que não? Tudo é possível; ser muito feliz na velhice e desgraçados na juventude. Tudo está nas nossas mãos.

    Bjs, estou seguindo seu blog.Gostei muito.
    Tais luso

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  7. Amigo Thomaz,

    A cada nova leitura, aprendo mais com as suas crônicas, com o seu modo simples de falar do profundo. O tempo ganhou novo contorno no seu traço e temos uma reflexão importante: a efemeridade da vida e a busca pelo que realmente interessa.

    Desejando um abraço,
    mR.

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  8. Paixão é bom.
    Paixão é ruim.

    De fato, o tempo não volta - Proust enganou-se ao buscar o tempo perdido.

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  9. eu gosto da musica, mas só a conheci qnd o Emmerson Nogueira a regravou

    vejo que falar do tempo é algo bem recorrente na tua escrita, né? curioso pra saber o pq =p

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  10. Olá!!
    Encontrei seu blog ao acaso e simplesmente amei seus escritos!!! Parabéns!!!!!!

    Sim, o tempo não volta. Mas devemos saber tirar de cada estação seu aprendizado, sua beleza e também sua dureza.

    “... te digo que é assim que as coisas são e o fugaz delas é a sua eternidade - não no real, mas na memória de quem lembra.” (Caio F. Abreu)

    Abraços!

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  11. Na maioria das vezes temos dificuldades de saber quais escolhas fizemos de melhor nas nossas vidas. Só não sei por que isso acontece, já que o tempo se encarregará de depurá-las. Querendo ou não, o que significou um dia, significará para todo sempre, daí a sensação agradável de encontrar alguns amigos do passado.
    Só uma pessoa agradável consegue escrever coisas tão agradáveis de ler, este texto é um exemplo.
    Parabéns!

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