sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Todos os nomes




Uma flor é apenas uma flor quando tu simplesmente a nomeias por flor. Quando dizes sol, acaso não defines o astro gigante que dá vida a todo vivente? Quando falas pedra, sentes o peso da palavra e onde reside todo o seu discurso. Quando falas em alma, amor e Deus, refere-te ao reino da pura palavra, onde tudo é perfeito e atingível. Quando abres a boca e dizes a palavra palavra, descreves com perfeição atividade e produto; colocas nas pontas opostas da mesma linha o terno e o eterno: uma ponte que toca dois mundos, o do dito e o do não dito. Erguida a ponte, resta que se diga que quando verdadeiramente dizes alguma coisa – qualquer coisa –, dás a essas coisas nomes – todos os nomes –, aquilo sem o qual nada neste mundo pode ser amado ou odiado.

Para José Saramago e João Cabral de Melo Neto

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