domingo, 4 de outubro de 2015

Crônica de um dia sem televisão fechada



Estou sem televisão por assinatura e estou sentindo uma falta danada porque tenho um ótimo pacote de canais. Por alguma causa natural – pode ter sido uma ventania muito forte que deu por aqui – ou até mesmo incompetência do técnico que fez a instalação, minha antena caiu e fiquei sem sinal.

O que fazer enquanto o técnico não chega?

Como tenho pouquíssimas opções na televisão convencional – aqui em casa só pegam dois canais – recorri à minha velha coleção de DVD’s, que andava em baixa por causa da tal televisão fechada. Para dizer a verdade, ainda não migrei para o formato Blu-Ray justamente pela comodidade de ter tantos filmes à disposição nos muitos canais oferecidos. De repente percebi o quanto fiquei acomodado e preguiçoso nesse quesito. Logo eu, que um dia tive uma enorme coleção de fitas VHS. As pessoas que estiverem abaixo da casa dos 30 anos, sintam-se desobrigadas em ler este texto, definitivamente isto aqui não é da época de vocês.

Voltando ao assunto, fiquei observando meus DVD’s, buscando um título que me interessasse e ai bateu uma saudade dos anos de 80 e 90, porque lembrei que naquelas décadas não havia DVD e o boom das locadoras – que nem sonhavam com pirataria digital – era alimentado por aquelas fitas cassete enormes que levávamos para casa sob a ameaçadora advertência de rebobiná-las antes de devolver. Bons tempos aqueles. Tudo era diferente. O cinema era outro, a música era outra, a vida era outra. No ar havia menos malícia e mais fantasia. Já disseram que nasci com uma cabeça velha demais, que falo muito do que passou. É verdade, falo muito do passado, até mesmo porque é só dele que posso falar com conhecimento de causa, pois o futuro ainda virá e o presente deixa de sê-lo no instante seguinte. Resta-me então o tempo que passou e as lembranças deixadas por ele.

Muita coisa, além do VHS, ficou para trás.  Eu mesmo já deixei de contabilizar perdas e ganhos, simplesmente deixo acontecer. Novas gerações sucederam a minha e outras deixaram de falar comigo por já terem ido embora. Alguns de meus heróis ainda estão por ai, me defendendo; outros viraram bandidos e cumprem as penas dos crimes que antigamente combatiam. Máquinas de escrever – que me serviram tanto na faculdade – são peças de museu. A música perdeu a forma física, ela agora é digital, onipresente. O que me espanta é o preço dos vinis, caros por serem raros. Os tempos mudaram e as pessoas que agora estão conectadas às redes sociais, nunca estiveram tão longe de si mesmas. Porém, não posso negar que muito melhorou, posso oferecer mais do que meus pais podiam me oferecer; todo mundo pode – dentro do limite legal – falar o que pensa; a tecnologia já nem é mais tão restrita; e a medicina só avança.

Deixei de procurar um DVD, o filme poderia ficar para depois, preferi ligar para a minha mãe e saber como ela estava.

9 comentários:

  1. Gostei muito, fez me relembrar a saudosa época das fitas, longas tardes de domingo a ver filmes, sem a interrupção de tantos aplicativos modernos.
    Podemos oferecer muito mais que nossos pais nos ofereceram. Lendo isso, não tive como deixar de desejar que um dia os nossos filhos também deixem (qualquer tecnologia) para depois e prefiram nos ligar somente para saber como estamos.
    Muito bonito!

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    1. Também me dá muitas saudades. Quase não existem mais locadoras em minha cidade e eu adorava o clima delas, assim como um monte de outras coisas legais que simplesmente deixaram de existir. Fico esperançoso de que as próximas gerações façam uma religação com tudo o que havia de bom - ainda que isso não venha se efetivando.
      Obrigado pela leitura, Sara. Abraços.

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    2. Que as próximas gerações levem muitas mordidas da vida, assim como nós levamos. Obrigada. Abraço.

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  2. Olá, Thomaz, bom demais seu texto, atualíssimo! Tenho lembranças ótimas dessa época. Você esteve afastado por um tempo do blog, foi pena...
    Grande abraço, continue a nos brindar com seus textos.

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    1. Obrigado Taís, é sempre bom ver seus comentários por aqui; Melhor ainda é ver seu texto. Estive afastado, é verdade, mas pretendo ficar mais regular por aqui. Grande abraço.

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    1. Valeu Jório. Como fico muito sem passar por aqui, só agora vi seu comentário. Obrigado, amigo

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