domingo, 4 de abril de 2010

Batismo


O casal com o bebê nas mãos desce cuidadosamente as pedras que os separam do mar – é que mesmo inamovíveis elas são traiçoeiras, lisas e cortantes com suas navalhas de minério. É a primeira vez que levam o bebê diante do velho oceano. Dizem que a vida surgiu ali, na água, e por que não, talvez pense o pai, ali se diluirá também, no comum acordo entre o que está morto e o que está vivo, onde as coisas do mundo têm seu prosseguimento. Portanto, deve ser importante aquela apresentação, onde o bebê, refletido nas águas, conhece aquele que com sua vontade alimentou homens ou fez sumir gerações inteiras deles nas suas imensas vagas.

Ao redor de todos eles, no mar, na areia, no ar ou até mesmo nas pedras, a natureza pulula em pequenas vidas e pequenas mortes.

O pai molha os pés e a cabeça do seu bebê na água. Levanta-o pelas axilas, exibindo-o à lua imensa na noite azulada. A mãe afaga os dois com o sorriso. E o mar, depois que lambe os pés da criança, se satisfaz com a reverência, prometendo no silêncio de suas ondas benção e proteção para mais uma pequena vida que oxalá, um dia irá girar seus dias em torno das mesmas águas onde agora se abençoa.

Voltam pelas pedras para ir embora, protegendo a criança do frio da noite. Atrás deles permanece o mar, sorrindo ao desfazer-se em espuma.

5 comentários:

  1. É impossível não sorrir com a imagem do mar lambendo os pezinhos da criança sob a luz da lua.

    Beijomeu

    ResponderExcluir
  2. cara, que linda imagem vc me passou, creio que dos textos que li aqui seja o meu favorito, talvez pela simplicidade do tema e das ações dos personagens..


    www.euthiagoassis.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Olá Thomaz, muito cândido este texto, gostei muito, você tem talento hein amigo! Aguardo as próximas palavras...abraço

    ResponderExcluir
  4. O que é mais legal nas suas crônicas, e essa em especial, é a estranheza com que olha as coisas que o mundo já batizou de comum. Você tem tanto talento pra coisa, que fica difícil comentar os seus textos. Sinto-me uma criança diante do oceano.
    Beijos!

    ResponderExcluir