domingo, 7 de março de 2010

Rostos estranhos, mistérios estranhos


Interessante como surge a reflexão. Em mim pode vir através de qualquer estímulo. Quer dizer, eu não me sento e me concentro em algo, é a reflexão que me atinge quando estou assim, sem pensar em nada.

Agora, por exemplo, enquanto estou sentado em um banco de rodoviária, esperando o embarque de minha esposa, me sinto tocado pela reflexão da diferença ao me ver cercado por rostos estranhos que nada tem em comum com minha vida.

Todos são diferentes, eu acho. Raul cantarolava que cada um de nós era um universo, quem sabe até para nós mesmos. Deve ser verdade, o ser humano é um mistério indecifrável onde mil sábios debruçados não dariam uma resposta aproximada.

Viro a cabeça e contemplo um desses mistérios que perambulam por aí: uma senhora que carrega um menino chorão. Outro mistério senta ao meu lado: um garoto asiático que lê uma revista escrita em sua misteriosa língua – tão estrangeira quanto ele é em meu país e quanto eu sou em sua mente, assim como ele seria na minha. Cada pessoa nesta rodoviária para mim é um mistério. É um mistério aqui, no meu bairro ou no universo. Parece-me que assim será até o fim dos dias.

Fixo os olhos na plataforma de embarque e percebo que o ônibus em que minha esposa está, começa a manobrar para ir embora. Da janela me acena. Retribuo seu gesto de carinho. A todo velocidade o ônibus vai ao encontro de seu destino. Ao longe, misturada à paisagem, reconheço pouco a minha esposa. Tampouco reconheço a mim também.

4 comentários:

  1. Sua postagem me fez lembrar de um saudoso amigo, que nessa reflexão muito parece contigo. Um dia, conversando com ele sobre universos, ser humano, depois de imensas digressões, chegamos em Hegel, e muito guardo sua reflexão: "Tudo no mundo só existe a partir de nossos olhos, uma planta não é nada, até que a olhamos, e em nossa consciência ela brote: planta."
    Reflexões assim são fundamentais para poemas, livros, e principalmente, para vida.
    Bela postagem, muito inteligente!

    F.M.

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  2. Muitos gostam de denominar esses mistérios como diversidade. Um ou outro,eu penso mesmo é nas possibilidades que nos escapam sempre. Por exemplo, aquela que sonhei um dia poder conviver harmonica, pacifica e solidariamente, numa corrente universal. Meu sonho não acabou, mas está um tanto entorpecido ou tem causado sofrimento quando durmo. Ótimo refletir com você, meu amigo! Bom dia! Paz e bem.

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  3. se parar pra pensar é incrivel o numero de pessoas q a gnt se cruza na rua e que tipo, nuuunca mais vai ver, more na mesma cidade ou ate no mesmo bairro...

    tantas pessoas só poderiam ser todas um infinito particular antes de tudo.

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  4. cada um com sua cara, sua figura, estrututa...cada qual com seu medo, seu segredo...você olha, vê, e ainda toca com palavras...
    gostei muito!!!
    Abraço.

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