domingo, 14 de março de 2010

O mar e a borboleta


Caso alguém não saiba, a cidade de São Luís, onde nasci e moro, é uma ilha. Se o fato for desconhecido, não tem problema algum, afinal, até nós que nela moramos só a percebemos ilha quando a vemos do mar.

Nas vezes em que saio da cidade (o que é raro, já que não sou de me locomover muito) observo coisas curiosas em terra firme ou no mar (de avião jamais, tenho pânico de alturas). Em uma dessas minhas vistas, estava eu fazendo a travessia marítima entre minha cidade e a cidade de Alcântara (que fica a uns 60 km daqui), quando resolvi me encostar na amurada do barco para fitar o mar (é que estava enjoado dos balanços que são tão agradáveis àqueles que tem tamanha intimidade com o misterioso oceano) e foi diante da imensidão cinza (pois a cor do mar daqui é cinza, a cor da saudade) que vi uma borboleta em um ousado voo sobre o mar.

Pouco sei de insetos e meu conhecimento sobre o mar é menor ainda, mas sei que suas naturezas são distintas e que nitidamente o mar é superior a todo ser vivente. Portanto, o que na perspectiva da borboleta deveria ser voo, para mim era o encontro inevitável com a morte nas águas caudalosas.

Observei o quanto pude a borboleta bater suas asas azuis (azul, a cor da esperança) em contraste com o horizonte cinza. Completei a travessia e é muito provável que a borboleta não o tenha feito. De repente o significado daquela travessia até fosse esse, o de nada atravessar, como acontece nos contos morais em que alguém se esquece de nos contar o final. Gosto de lembrar deste acontecimento como o dia em que vi singelo azul da borboleta e o imponente cinza do mar materializados no mesmo plano; uma alusão às lutas travadas todos os dia entre o pequeno indiferente e o grande previsível. Às vezes penso que, pelo menos em minha cabeça, a borboleta conseguiu chegar à beira da praia e no multicolor azul de suas asas refletiu toda a beleza do mundo na simplicidade do bater de asas. Gosto de pensar que às vezes o impossível é superado.

3 comentários:

  1. Thomaz, que analogia genial, hein, moço? Enquanto você gosta de pensar que o impossívelpode ser superado, eu adoro refletir junto com você. Abração, meu amigo! Bom dia! Paz e bem.

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  2. Thomaz! Que belo modo de colocar as palavras aqui hein. Sabe, esta encantador. Gostei muito deste texto em especial, adoro o mar, a natureza, e essa reflexão tão sutil e desinteressada ficou divino. Não só gosto de pensar nisso tudo aí, como penso e tenho certeza de que o impossível pode ser superado, só que em certos momentos não vale a pena, tem travessias que não devemos fazer. Abraços e bia semana.

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  3. Amigo Thomaz:

    Estava escrevendo há pouco um texto em que falava sobre o azul de um sonho. De um sonho que só era sonho por ser impossível, por não ser realidade. Não sei, mas acho que as asas da borboleta causaram repercussões por esse mundo afora.

    Abraços,
    mR.

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